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A ausência de mim foi longa.
Sei que estive por ai, dizem-me mesmo que procedi como era suposto.
Mas a solidão pesa-me como um casaco molhado e nem as palavras têm o pudor de curar as feridas, como sempre o fizeram antes, como um cão que lambe as feridas até elas fecharem.
Sei que os dias passaram e que houveram chuvas e ventos e calor fora de tempo e trovoadas e dias e semanas e paginas mais paginas de jornais.
A ausência de mim deixou-me perdida num calendário que me diz estarmos em Fevereiro, dia tantos do ano tantos.
As coisas estão datadas, Como os sentimentos e as memórias, como os sonhos e o resto que completa os dias.
E depois esta obrigação de ser e estar sem que contudo alguém queira exactamente saber quem somos de verdade.
Ninguém gosta de histórias tristes ou pessoas introspectivas e plenas de perguntas e duvidas.
Não. Catalogamos as pessoas, metemo-las dentro de caixas com as respectivas etiquetas; Femea disponivel; macho não disponivel, heterosexual, adolescente...
Não se espera mais porque não há tempo para mais.
A ausência de mim deixou-me um vazio a juntar-se aos outros que já têm cicratizes e são histórias velhas.
Gostaria de juntar a este texto uma foto lindissima, onde uma rua deserta ladeada de arvores nuas parece não ter fim.
Assim como se eu pudesse transformar em algo palpavel o vazio onde estive perdida.
Mas já não sei como se faz e depois, na verdade, nada disto tem importância.
Desculpem o silêncio, o branco da pagina encabeçada por uma mulher que me dizem ser eu.
Talvez seja, talvez não.
Vou falar com ela e talvez volte.
Pode ser até que na tal fotografia que não sei inserir neste blog, a estrada tenha um fim e lá bem no fundo esteja eu.
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