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Luísa Castel-Branco

Até amanhã se for caso disso

Luísa Castel-Branco, 22.02.07

A ausência de mim foi longa.

Sei que estive por ai, dizem-me mesmo que procedi como era suposto.

Mas a solidão pesa-me como um casaco molhado e nem as palavras têm o pudor de curar as feridas, como sempre o fizeram antes, como um cão que lambe as feridas até elas fecharem.

Sei que os dias passaram e que houveram chuvas e ventos e calor fora de tempo e trovoadas e dias e semanas e paginas mais paginas de jornais.

A ausência de mim deixou-me perdida num calendário que me diz estarmos em Fevereiro, dia tantos do ano tantos.

As coisas estão datadas, Como os sentimentos e as memórias, como os sonhos e o resto que completa os dias.

E depois esta obrigação de ser e estar sem que contudo alguém queira exactamente saber quem somos de verdade.

Ninguém gosta de histórias tristes ou pessoas introspectivas e plenas de perguntas e duvidas.

Não. Catalogamos as pessoas, metemo-las dentro de caixas com as respectivas  etiquetas; Femea disponivel; macho não disponivel, heterosexual, adolescente...

Não se espera mais porque não há tempo para mais.

A ausência de mim deixou-me um vazio a juntar-se aos outros que já têm cicratizes e são histórias velhas.

Gostaria de juntar a este texto uma foto lindissima, onde uma rua deserta ladeada de arvores nuas parece não ter fim.

Assim como se eu pudesse transformar em algo palpavel o vazio onde estive perdida.

Mas já não sei como se faz e depois, na verdade, nada disto tem importância.

Desculpem o silêncio, o branco da pagina encabeçada por uma mulher que me dizem ser eu.

Talvez seja, talvez não.

Vou falar com ela e talvez volte.

Pode ser até que na tal fotografia que não sei inserir neste blog, a estrada tenha um fim e lá bem no fundo esteja eu.