Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Castel-Branco

A escova de dentes

Luísa Castel-Branco, 26.03.08

Tenho uma dor aqui, tão forte que me corta a respiração.

Tenho a tua falta marcada como ferro em brasa no peito, como uma tatuagem feita às escondidas, que hoje renego, que amaldiçoo e quero esquecer.

Ah! Os dias prolongam-se estupidamente, e as noites, essas, passo-as às voltas na cama porque cada vez que estendo o braço e não te encontro, acordo em desassossego, e meio a dormir, chamo o teu nome e demoro a realizar que partiste.

Faço o mesmo que fazia antes. Quer dizer, levanto-me, vou trabalhar, volto para casa, deito-me.

Faço tudo sem perceber o que se passa, ou sem intenção alguma, porque o meu corpo se assemelha a um autómato que conhece os horários das coisas que é suposto serem feitas.

Mas é como se eu, enquanto o meu corpo sai a porta e vai, eu ficasse aqui, afogada nos lençóis , nas almofadas e no teu perfume, no cheiro do teu suor que ainda aqui está, que ainda aqui o sinto.

Depois chegam os fins de semana e dói mais a solidão quando não me posso esconder no escritório , quando eu e a casa ficamos sós, a rua lá em baixo à minha espera.

Mas ir aonde? Fazer o quê?

Foram muitos anos a viver a dois, a caminhar a dois, a cozinhar para dois, o sofá com a marca de dois corpos. A tua escova de dentes na casa de banho (porque te terás esquecido da escova de dentes ?), o silêncio nas escadas, a porta que não abre e tu a chamaras por mim.

Doi-me aqui dentro. E hoje é sexta-feira e amanhã é dia de ter família .

Hoje a Dona Aurora perguntou-me por ti, lembras-te dela? A senhora da papelaria? Claro que não te recordas porque há muito que estavas surdo e cego para tudo o que era a nossa vida, vidinha miserável e sem interesse, foi isso que disseste antes de sair, não foi?

Estavas ali à porta, com a ultima mala na mão, que já tinhas levado tudo o resto antes de eu chegar do trabalho, disseste isto e depois ficaste calado.

E é essa imagem que me faz doer aqui dentro, mais que tudo o resto.

O teu olhar de desprezo e as ultimas palavras que deixaste no tapete: Como é que ficaste nesse figura?

E eu a olhar para mim e eu a ter vergonha do meu corpo e eu...

Doi-me cá dentro e por isso não consigo chorar.

SOS Professores

Luísa Castel-Branco, 25.03.08

O que fazer perante as imagens que graças ao gozo de mais um jovem imbecil e mal-educado, chegaram até nós?
Ficar surpreendidos? Impossível!

A linha SOS Professor, em funcionamento desde Setembro, recebeu em 5 meses 128 contactos dos quais 39% relatam situações de agressão física, isoladas ou em simultâneo, sendo que 37,2% das agressões partiram dos alunos e 21% dos encarregados de educação. Ainda mais inacreditável é o facto de a maior parte dos casos ocorrer no 1.º ciclo (antiga primária), 31%, seguindo-se o 2.º e 3.º ciclos (25,6%) e o ensino secundário com 15,5% das denúncias.

Quanto às zonas do País, Lisboa lidera com 36%, Porto 26% e Setúbal (13%). Segundo dados do Observatório da Segurança Escolar divulgados no Parlamento, no passado ano lectivo foram contabilizadas 390 agressões a professores na escola e arredores, o que dá uma média diária superior a dois casos tendo em conta que há 180 dias de aulas por ano.

Agora notem: no passado ano lectivo, os professores ingleses foram vítimas de 221 agressões, de acordo com dados da Comissão de Saúde e Segurança do Reino Unido, menos 169 do que em Portugal.

Há apenas um pequeníssimo pormenor a ter em conta: em Portugal, há cerca de 150 mil docentes enquanto nas escolas inglesas trabalham mais de 420 mil!

Volto à minha pergunta, o que fazer? Leio na Net que a Federação Nacional dos Sindicatos de Educação (FNE) propõe que estas agressões fossem consideradas "crimes públicos", mas tal significa uma alteração legislativa. Afinal há boas notícias! O Governo e a Assembleia podem tornar efectiva a punição a este tipo de comportamentos.

A má notícia é que, contrariamente ao que já acontece na vizinha Espanha, os tribunais ainda não obrigam os encarregados de educação ao pagamento de multas.

É pena. Doutra forma não vamos lá!

Adeus Lisboa

Luísa Castel-Branco, 18.03.08

Despedi-me de Lisboa.

Disse adeus aos múltiplos verdes do jardim da Estrela, aos pássaros, aos sinos da Basílica, aos tons misteriosos e luxuriantes do final de dia, a lamberem as janelas para depois caírem pela casa dentro como tintas mágicas.
Despedi-me do Tejo. Do negro das águas quando as nuvens passam por cima, do verde azul quando o céu se reflecte como num espelho. Dos cacilheiros e do seu lastro no rio, espuma que apetece tocar.

Despedi-me do Castelo. Do recorte das torres e das muralhas com árvores que assim, vistas tão de longe, parecem um brinquedo de criança feliz. Do dia que nasce daquele lado, subindo devagar e escorrendo depois para o rio e para o casario.

Despedi-me das ruas de Campo de Ourique, onde os velhos são felizes, caminham de mãos dadas e dão beijos ao de leve nas esplanadas.

Onde em cada esquina há uma escola e as crianças chilreiam como pardais e riem como só elas sabem rir.
Em cada porta uma loja, em cada loja um mundo diferente. Da tasca escura com mesas de madeira cobertas de oleado, até aos produtos mais caros e sofisticados, aqui há de tudo. A calçada à portuguesa pejada de gente que ao invés de correr como no resto da cidade, aqui passeia e troca palavras.

A última coisa que fiz antes de partir foi abraçar Lisboa com força e enviar as minhas preces para os céus.
Sou cigana. Parto mas deixo sempre, em cada um dos lugares onde vivi, um pedaço de mim.

Todas as casas têm alma e história. Espero que quem para ali for viver saiba dar ouvidos às almas que por lá ficaram.

in Destak 18.03.08

A insegurança na educação

Luísa Castel-Branco, 11.03.08

Se na manifestação do passado dia 8 estiveram em Lisboa cerca de 100 mil professores, então significa que aqui se manifestaram dois terços da classe que trabalha em Portugal.

Quantos destes eram pais, quantos eram avós?

Quando falamos do ensino, todos nós, de uma forma ou outra, temos algo que ver com o assunto.

E podemos não saber ou não perceber quais são as políticas que o governo quer implementar.

Mas temos uma noção muito clara do que os nossos filhos, sobrinhos, netos estudam, do que se passa nas escolas, de quanto custam os livros que todos os anos têm que ser comprados, mesmo que eles repitam o ano escolar.

Longe vão os tempos em que o professor era uma referência na nossa vida futura, em que o respeito, que veio substituir o medo que muitos vivemos antes do 25 de Abril, a admiração por aqueles que nos ensinavam ou que instruíam os nossos filhos era uma certeza, e dava-nos segurança.

Não querendo discutir a política para o sector, o que mais me interessa é salientar aqui é o outro lado desta realidade.

A Linha SOS Professores tem recebido um número inacreditável de queixas e pedidos de ajuda de professores agredidos verbal e fisicamente.

Esta é a realidade portuguesa. Independentemente das discussões sobre os métodos de avaliação dos professores, para quando a avaliação dos pais?

O facilitismo que o Estado vem instaurando ao longo dos anos no ensino, é ultrapassado pela incapacidade dos pais em educarem os filhos, e muitas vezes, de eles mesmos saberem respeitar quem os ensina.

in Destak 11.03.08

FEEL WOMAN

Luísa Castel-Branco, 04.03.08

Na próxima Sexta dia 7 e até Domingo vai decorrer no Centro de Congressos de Lisboa (antiga Fil) o certame FEEL WOMAN, a Feira da Mulher.

O Destak é o Jornal Oficial desta feira, a única totalmente dedicada ao universo feminino, e que se distingue de qualquer outra, por proporcionar aos visitantes uma interactividade e aprendizagem com os 76 expositores que se encontram presentes.

A FEEL WOMAN foi pensada por e para mulheres (mas os homens são bem vindos!). Porque gostamos de coisas diferentes, porque a nossa forma de apreender áreas tão distintas como a Cosmética; Alimentação; Desporto; Cultura; Culinária; Lazer e muito mais se prendem com os nossos sentidos: o Tacto; o Paladar; o Olfacto; a Audição.
Ser Mulher é sinónimo de sentimentos, de paixões e da busca permanente, por algo que nem nós próprias sabemos decifrar. E também como mulheres, estamos atentas aos problemas. Na Feel Woman vai ter lugar a divulgação da acção "passaapalavra" uma Campanha de Educação e Prevenção do Cancro do Colo do Útero, "Passa Palavra" uma sensibilização da problemática do Cancro do Colo do Útero.

Presente também vai estar o Empreendedorismo Feminino. E pessoal qualificado para explicar como podem as mulheres portuguesas candidatar-se à última tranche dos Fundos Comunitários que contempla verbas especificamente criadas para nós: da artesã à empresária!
No próximo fim-de-semana lá estarei e espero por si.

in Destak 4.03.08