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Luísa Castel-Branco

O senhor Phillip

Luísa Castel-Branco, 30.09.08
 
  

Phillip Seaton, um americano de 61 anos do Kentucky, entrou numa sala de operações para ser circuncisado e saiu sem pénis. O homem e a mulher já garantiram que vão processar o cirurgião, por ter feito a "amputação sem autorização". O casal acusa o médico de ser responsável pela sua perda de "serviço, amor e afecto". O cirurgião alega "ter encontrado um cancro na próstata." In Destak 29.09.08

Preparava-me para escrever sobre outra notícia publicada no Destak sobre três bombas de gasolina que foram assaltadas domingo à noite por indivíduos armados em Vila do Conde, Lousada e Felgueiras, quando deparei com a notícia que acima transcrevo.

Mas sobre a insegurança que se vive neste País (já sei que o governo diz que não aumentou, o que quer dizer que nós é que somos todos parvos!) é assunto que vou deixar para os outros, ou para outra altura (talvez quando já não pudermos sair à rua à noite!) e prefiro falar do pénis do senhor Phillip.

Isto de um homem entrar para o bloco operatório para fazer uma simples circuncisão (mas porque raio foi ele lembrar disto nesta altura da vida? Ter-se-á convertido à religião Judaica?) e quando acorda perceber que lhe tiraram o pénis, não deve ser coisa fácil.

Quando é que ele se apercebeu? Quando teve vontade de urinar? Quando a esposa se chegou ao leito e levantou o lençol para ver o resultado da dita circuncisão? Ou será que o dito estava num frasquinho na mesa-de-cabeceira, tipo souvenir?

Compreendo perfeitamente que o senhor Phillip e a esposa tenham processado o médico, porque aos 60 um homem ainda pode muito bem prestar "serviço, amor e afecto" à respectiva e quiçá a outras. Os americanos podem ter muitos defeitos, mas são dotados de muita calma.

Eu estou mesmo a ver um qualquer português na mesma situação e não acredito que o médico ficasse em muito bom estado físico! Cá para mim, só depois do enxerto de porrada que a mulher do dito português capado lhe dava é que alguém se lembrava de chamar um advogado

in Destak 30 | 09 | 2008

...

Luísa Castel-Branco, 24.09.08
Manuel Costa disse sobre Desafio nº12 – Vamos falar de sexo? na Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008 às 15:39: 

 

Ora eu como jovem ao ler este comentário chego à conclusão que de facto a pior coisa que inventaram neste mundo é a sociedade liberal, eu nao sou ng para julgar os actos de ninguem, mas tenho a minha opinião e sinceramente a nossa sociedade está em crise, costumo dizer que o ser humano n foi feito para ter asas, visto que a maioria das pessoas qd tem asas voam demasiado alto, tão alto que acabam por se perder no espaço para nunca mais voltar. Infelizmente, tenho reparado na vulgaridade sexual que vivemos, hoje em dia todos falam com uma abertura que até faz tremer, já vejo crianças com 3 e 4 anos que sabem perfeitamente o que é sexo, como é obvio explicam à maneira deles, mas o bichinho já está a correr nas veias, o que mais tarde irá se reflectir em actos nao pensados e acabarao por se tornar em actos infelizes. Não dúvido que n existam aí mtas mulheres com quem desejasse ter sexo, mas sejemos racionais nos nosso actos, nós nao somos propriamente cães, se fossemos nao teriamos consciencia e talvez vivessemos numa selva.

A sociedade liberal vai acabar por destruir uma linhagem de tradições que se construiram durante seculos, tanto trabalho para construir uma sociedade decente e acabamos todos em decadencia. Enfim, posso paracer ditador, atrasado, ignorante ou sem liberdade, mas a todos lanço um desafio, experimentem analisar os actos das pessoas que vos rodeiam e certamente chegarão à mesma conclusao que eu. A sociedade nao pode ter asas.

Quanto a si Helena se é assim tão liberal, porque não conta o que fez com esses homens às esposas deles? porque não conta ao seu marido? porque nao conta ao vizinho? e mais tarde conte à sua filha. Afinal se é livre, também estou certo que será suficientemente mulher para assumir a responsabilidade dos seus actos, afinal liberdade é voar para que todos nos vejam, mas desculpando-me o termo a sua coragem está da cintura para baixo.

Cumprimentos a todos os leitores,
Justice for all

 

Manuel,
Não sei que idade tem e tenho pena.
Gostaria de saber a que geração pertence porque o seu comentário é deveras interessante.
Concordo consigo quase totalmente. E digo quase porque quando fala das crianças e do sexo, ai entra o papel da família que está cada vez mais embrenhada nos seus próprios problemas e por consequência as crianças são deixadas à influência da televisão, e de tudo o mais.
Mas, há sempre um mas, temos que separar as águas e pensar que uma coisa são as famílias que lutam para colocar comida na mesa aos filhos, outra, e muito mais grave, são os pais que não se preocupam com a educação em todo o seu sentido dos filhos relegando para a escola aquilo que eles deviam fazer.
O mundo está em perpetua mudança e não é verdade que tenhamos chegado aqui com um mundo perfeito.
Contudo, tenho grande esperança nas novas gerações, filhos de famílias em crise, filhos de mães que lutaram contra tudo para os educar e sustentar.
E espero sinceramente que consigam dar a volta à situação.
Porque, na minha modesta opinião, o que hoje em dia se vive é o facilitismo, o prazer pelo prazer e a incapacidade de investir nas relações com todo o custo que isso implica.
Um abraço para si e volte sempre.
 

Tu já não me amas!

Luísa Castel-Branco, 23.09.08
 
 

- Não me fales da economia, da euforia bolsista e do Psi 20, nem do aumento dos juros do crédito, nem de como fecharam as bolsas!

Não quero saber!

E também não estou interessado nas políticas do governo, na instrumentalização ou não dos órgãos de comunicação e no que se discutiu hoje no Parlamento.

E, por amor de Deus, pára de falar do Obama, do futuro da economia chinesa e indiana e das consequências para a Comunidade Europeia.

E não, também não quero ver as imagens do último atentado da ETA, nem debater o discurso do Papa e a hipótese de as missas voltarem a ser em latim. E não me fales das eleições angolanas, pela tua rica saúde!

Irra, não haverá algo de leve, de agradável para conversarmos?

Claro que não!

Claro que eu sei que não podemos falar do trabalho, mas...
Está bem, então vamos ficar a jantar em silêncio.

Não? Eu não te percebo! Afinal o que é que tu queres de mim?

Sim, diz-me, o que é que tu esperas de mim?

É como se cada vez que estamos juntos eu só servisse para duas coisas: discussões intelectuais e sexo!

E é quando te apetece, claro, quando te dá jeito!

Olha, sabes o que te digo? Razão tem a minha mãe quando diz que já não há mulheres como antigamente!

Essa é que é essa!

 

in Destak 23 | 09 | 2008  

BookCrossing- Obrigada Maria Eugénia

Luísa Castel-Branco, 19.09.08
Maria Eugenia Ponte disse sobre BookCrossing e Alma na Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008 às 16:05:


 

     

 

Não tem que agradecer, eu é que fico grata pela sua atenção e pelo que senti com "Alma"... e na alma!

Quanto ao BookCrossing está a funcionar em Portugal, sim, e bastante activo.
Tenho um blogue sobre esse assunto e convido-a a visitá-lo:
http://genapontebc.blogspot.com/

De qualquer modo, posso dar o endereço do site do BC:
http://www.bookcrossing.com/
E também do site de apoio em Portugal:
http://www.bookcrossing-portugal.com/

Para quem adora ler, como eu, e partilhar esse prazer, é todo um mundo que se abre, cheio de novas possibilidades... trocamos livros, emprestamos, "libertamos" para que sejam encontrados e lidos gratuitamente...

Enfim, deixo aqui o meu convite para uma visita ao site, a todos e especialmente à Luisa.
Bom fim de semana e um abraço, amigo,
Maria Eugenia Ponte

 

menos

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BookCrossing e Alma

Luísa Castel-Branco, 18.09.08
Maria Eugenia Ponte disse sobre Boas férias! na Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008 às 16:59:

     

 

Pertenço ao BookCrossing  e li o seu livro por empréstimo de uma amiga do BC.

Deixei este comentário, penso que gostará de saber o que senti:

"A leitura deste 1º.romance de Luisa Castel-Branco surpreendeu-me agradavelmente.
Interrompi a leitura de um outro livro para dar uma olhada inicial e fiquei de tal modo “presa” que só o voltei à leitura do livro anterior quando acabei de ler este.
Quando acabei, fiquei com aquela sensação estranha de que ía perder a companhia de algo que me deu prazer, como se me separasse de uma amigo/a.
Sinto sempre isso quando gosto verdadeiramente de um livro.
Gostei imenso da maneira como as personagens se ligavam e as palavras abriam o véu dos mistérios da vida da mulher naquela época cinzenta da nossa história.
Situações que ainda são uma verdade mascarada dos nossos dias e me fizeram reflectir ao mesmo tempo que me faziam ter pressa e curiosidade.
Queria saber o que vinha a seguir, queria ter mais tempo para não largar o livro enquanto não o acabasse.
Achei que todas as personagens convergiam para a principal, Alma.
Mas Alma é o constraste, é a diferença, é a comparação inevitável, misteriosa, independente, carismática e apaixonante.
Alma é uma mulher especial e Luisa Castel-Branco está de parabéns até porque acho que a personagem tem muito da autora.
Adorei e recomendo vivamente este grande romance!

Obrigada, amiga, pelo empréstimo do livro mas estou a pensar adquiri-lo porque acho que vou ter saudades dele e quero tê-lo à mão quando isso acontecer.
Entretanto, logo que possa ir aos correios, devolvo-o, sim?"

---

PARABÉNS e fico à espera de um novo romance seu.
OBRIGADA.
Maria Eugénia Ponte

 

Maria Eugénia,

Muito obrigada pelas suas palavras.

Sinto todos os dias a falta da Alma e dos Mistérios da Vida, como se uma parte de mim tivesse ficado presa no livro, para sempre.

Quanto à sua opinião de que Alma tem semelhanças comigo, tive que parar para pensar porque nunca ninguém mo tinha dito e eu não o equacionei até este momento.

Mas tem razão. Em algumas, pequenas coisas Alma tem algo de mim mas no todo é muito mais e principalmente, sem sequer eu saber o que quero dizer quando o digo, é um Ser de Luz.

Um grande abraço,

 

P.S.

Já agora, se puder dar-me mais informações sobre o BookCrossing que conheço o conceito mas não sabia que está a funcionar em Portugal, eu ficava-lhe muito agradecida por partilhar essa informação com os restantes leitores.

O Poder do Amor

Luísa Castel-Branco, 17.09.08
Sofia disse sobre Paixão ou Amor? na Quarta-feira, 17 de Setembro de 2008 às 16:25:

     

 

Luisa
Tantas vezes a visito e leio atentamente tudo o k escreve..talvez por me identificar consigo em algumas coisas,senão todas...
È bom saber que alguém nos "escuta" e tem uma palavra a dizer-nos quando procuramos ajuda neste mundo virtual que a cada dia que passa vai ganhando espaço na nossa vida.
Digo isto porque hoje me sinto impotente e triste perante uma circunstancia adversa que eu julgava ultrapassada.
Apesar de ter muitos amigos, a minha voz parece não querer soltar-se e repetir aquilo k me atormenta.
Tenho medo de que alguém muito querido se perca, não tenha mais forças para lutar contra uma doença após já o ter feito com todas as suas forças e vencido...embora momentaneamente.
Para quem só tinha poucos meses de vida, resistiu 7 anos, foi dificil e doloroso, mas . vive!Tornou a sorrir, e eu tive a felicidade de lhe dar uma netinha ...a luz dos olhos dele!
E agora, passados 7 anos, aí está ele de volta...o famoso tumor no colon ...e ...até onde iremos chegar?
Até onde eu consigo ter animo e força paar transmitir-lhe?
Sinto-me envergonhada por parecer cobarde ...desculpe !Hoje só consigo chorar como uma criança que não quer perder os eu porto de abrigo...

Sofia,

Não há forma de diminuir a dor, não há existe maneira alguma de nos prepararmos para a partida de alguém que amamos, e muito menos para ver o sofrimento físico e psicológico sentindo-nos totalmente inúteis, incapazes de minorar ajudar a quem amamos.

E por isso mesmo, as lágrimas devem correr livremente, temos todo o direito à revolta e à tristeza.

Mas, tenho para mim que só morre verdadeiramente quem não é amado.

Porque ainda hoje conservo viva a memória do meu pai que partiu aos 51 e que me acompanha todos os dias, ao longo da vida.

Mas querida Sofia, ainda que o meu conselho ( se tal lhe posso chamar) seja doloroso e em nada a alivie neste momento, peço-lhe que faça o que eu não tive oportunidade para fazer: Diga-lhe quanto o ama, diga-lhe tudo o que guarda dentro do seu coração, sem vergonha ou pudor.

Aproveite até ao limite o tempo disponível a dois, e recorde esse amor que sinto nas suas palavras, relembre-o com ele, e saboreiem os dois um amor que será eterno.

 

Só e quando chegar o momento de dizer adeus, só ai poderá recolher-se dentro de si mesma e então, saber que não ficou nada por dizer, e chorara a saudade.

 

O poder do amor é infinito.

E, mesmo para alguém como eu, cuja fé é fraca, acredito que de alguma forma inexplicável existe mais do que esta vida e esta dimensão e que até hoje sempre fui protegida pelo meu pai.

Peço desculpa por não poder ser de maior ajuda.

Mas não duvido que a Sofia seja capaz de tudo isto e muito mais.

Pobres dos que não amam e não são amados.

Pobres dos que passam por esta vida sem conhecer o sofrimento que o verdadeiro amor transporta.

Um grande abraço,

 

 

Paixão ou Amor?

Luísa Castel-Branco, 17.09.08
Loris disse sobre Tenham vergonha! na Terça-feira, 9 de Setembro de 2008 às 22:03:


 

     

 

Olá Luísa boa noite.. gosto do seu blog e de facto insurjo-me contra os que atacam pessoas gratuita e cobardemente quem emite opiniões. eu também vou escrever sob anonimato porque quero falar de uma fase emocional que quero partilhar, neste espaço. A propósito de traições... estas surgem quando menos se espera e podem tomar proporções não previstas. apenas o fiz uma vez ao fim de 23 anos de casamento. Um casamento que não é complemento em muitas vertentes importantes, incluindo a sexual. Numa festa de fim de ano, começou uma troca de e-mails, passados 3 meses encontrámo-nos.ele vive no estrangeiro. foi de tal ordem q ficou uma relação séria mas impossível para mim. Não consigo conceber largar filho e marido casa e partir para o desconhecido. quebrar a minha pequena rede social, familiar e tudo o q envolve. ele programa e eu refreio, mas é mto difícil acabar depois de descobrir sensações e sentimentos adormecidos. estou entalada e a dar em doida, sem falar com ninguém. alguém que fale comigo sem julgamentos básicos seria muito bom. um abraço

 

Minha Cara,

Não há nada a julgar. Quanto mais a vida avança mais nos apercebemos que nada é a preto e branco, e que a verdade é diferente para cada pessoa.

A verdade da sua relação é o que conta para si.

E 23 anos em comum é muito tempo, por isso mesmo compreendo que esteja confusa e amargurada com o que vive em termos de sentimos, da necessidade de decidir entre a sua família e aquilo que considera amor.

Quem sou eu para a aconselhar? Mas percebo que deixar o seu filho seja sem duvida o maior dos entraves a uma nova vida.

Nos dias de hoje, em que cada dois casamentos termina em divorcio ao fim de um ano, a sua realidade é totalmente diferente.

E também a sua consciência do que vai deixar para trás.

Mas, se me permite, o que a espera do outro lado?

Porque a paixão que sente, por definição adultera os sentidos e transforma-nos ao ponto de apenas sentirmos a dor da falta do outro, a urgência do outro e nada mais.

Mas a seguir à paixão, ou vem o amor, ou o deserto.

E o amor precisa de estabilidade, de alicerces.

Ninguém pode ser feliz sem ter pelo menos assegurada a base do seu dia a dia.

O que a espera, pergunto-lhe?

Pare um pouco para pensar friamente. Tente afastar de si a culpa que a consome e ao mesmo tempo a incapacidade que vai aumentar de dia para dia em aceitar a sua vida como é hoje.

Veja com clareza e frieza o que lhe propõem essa pessoa. Se existe solidez nessa proposta para além do amor/paixão.

Se a sua identidade como mulher pode existir nesse novo local, porque não quererá de certeza ficar presa dentro de quatro paredes e dependente financeira e emocionalmente de alguém.

Se depois de tudo isto, acreditar que tem condições para ser feliz, que aquilo que sentem ambos é já amor e não apenas o encantamento dos primeiros tempos, então talvez tenha chegado o momento de dar direito a si mesma a ser feliz.

Claro que vai pagar um preço. Claro que terá que conseguir chegar a acordo com o seu marido sobre a custodia do seu filho.

Mas se valer a pena a luta, se sentir que pode proporcionar ao seu filho um lar, então a única coisa que lhe posso desejar é muita força.

 

Se pelo contrário sentir no fundo do seu coração que não existem condições para um futuro, então minha querida, chore sem parar, faça o seu luto e ande para a frente, mesmo que pense que está quieta no mesmo local.

Porque depois desta experiência nada vai ficar igual.

Qualquer que seja a sua decisão.

Um abraço e volte com noticias.

Indiferente

Luísa Castel-Branco, 16.09.08
 
  

Acordou cedo e deixou-se ficar queda, imóvel, com os olhos fixos no tecto. O tiquetaque do relógio na mesa-de-cabeceira, o som miudinho que subia da rua, uma porta que bate, passos na calçada, um ou outro carro, é domingo e a cidade espreguiça-se ainda.

Agora um cão que late e alguém que abre a persiana com estrondo.

A rua é velha, as casas são velhas, a cidade é velha. Mas ela não.

E contudo, o seu corpo está mais gasto que todos os séculos das muralhas de Lisboa, que as águas batidas do Tejo no cais.

Mais desgastado que as pedras da rua lisas de tanto uso, que as fachadas dos prédios com a tinta a cair.

O que fazer com este domingo, pensou para si mesma?
O que fazer com os dias que lhe restavam, porque cada manhã era mais penoso o levantar do leito, o arrastar-se pela casa, e as escadas, agora, só as utilizava para ir ao hospital e pouco mais.

Se ao menos... Mas para quê pensar nisso, do que servia, do que lhe valia a pena de si mesma? Deitada na cama sem se mover, a respirar devagarinho, fechou os olhos com força e partiu dali para fora, como se tivesse aberto a janela e voado, sem o seu corpo se mexer. E lá estava ela, de novo rodeada pelos perfumes conhecidos, pelas cores e sabores da sua infância, da sua juventude.

A mãe sentada no banco da cozinha, o ovo de madeira dentro das meias já tão passajadas, o pai que adormeceu na soleira da porta.

Ah! Como era feliz e não o sabia! Se ela tivesse sonhado o que a vida lhe ia colocar no colo, teria saboreado tudo de outra forma, ou então, pura e simplesmente ter-se-ia deixado por lá, sem outras ambições. O vento aumentou subitamente, e as cortinas rodopiaram uma e outra vez e ela que já não estava ali, mas bem longe. Nem calor nem frio. Nem noite nem dia. Nem viva nem morta.

 

in Destak 16 | 09 | 2008

Tenham vergonha!

Luísa Castel-Branco, 09.09.08
 
 
 

«Oh rapaziada que para aqui comenta, têm de ver que a desmiolada da luisa só escreve estas babuseiras porque teve um AVC e portanto dêm um desconto à anormalóida, porque se ela estivesse com o juizo normal, nem estaria a comentar para este jornaleco da pide, estaria concerteza mas era a levar por frente e trás de algum velhadas ricaço.» INVEJOSA | 05.09.2008 | 00.56H

Para os leitores do Destak jornal, e não da edição online, aqui fica uma das "pérolas" que alguns aí escrevem a coberto do anonimato. Este é um exemplo do ódio que circula por este País, entre gente muito diversa. Alguém perdeu o seu tempo precioso para escrever injúrias que ultrapassam em muito o facto de gostar ou não da escrita de uma mera cronista do Destak.

Quem é o ser humano que ataca outro afirmando que as suas opiniões são anormais (sobre os erros ortográficos nem vale a pena falar) porque sofreu um AVC? O Destak é um "jornaleco da PIDE"? Como é possível usar da liberdade de imprensa garantida pela Revolução para insultar sem saber sequer o significado das palavras? Se a PIDE existisse o senhor ou senhora que destilou este ódio não o poderia fazer, mas claro, ele ou ela não fazem ideia do que dizem ou escrevem! E, claro, não podia faltar o ataque sexista, a tentativa de rebaixar a cronista, porque é sempre possível utilizar afirmações de carácter sexual quando se trata de uma mulher.

Porque perco tempo com este assunto? Porque basta andar na rua e ouvir a linguagem que muitos utilizam e que há anos atrás era impensável. Porque Portugal atravessa uma grave crise económica mas a verdadeira crise é muito mais grave: é uma carência de valores, de noção de ética e de respeito.

in Destak 09 | 09 | 2008 

A natureza humana

Luísa Castel-Branco, 04.09.08

 

Porque é que as pessoas não ficam felizes com a felicidade dos outros?
Durante anos, ela tinha sido feliz.
Estupidamente feliz, daquela forma que não tem história, e é feita de coisas sem importância.
Eram apenas um casal feliz, com dois filhos saudáveis, sem dinheiro para grandes coisas mas o indispensável não faltava e os dias corriam tão suaves, tão doces.
E ao longo desses mais de dez anos, as amigas sempre a tinham avisado dos terríveis fantasmas que assolavam os casais, do destino que a todas estava reservado.
E era como se ela de alguma forma as irritasse, por não ter lágrimas para partilhar nem segredos.
Agora, sentada sozinha no escuro da sala, com a chuva de Verão a cair ritmada, pensava que tudo o que elas tão caridosamente tinham previsto acontecera.
O marido um dia, sem qualquer aviso, ou ela não os tinha visto, pura e simplesmente, entrou em casa, pousou a pasta no chão e disse: “Preciso de espaço”.
E antes que ela conseguisse reagir, deu um beijo rápido nas crianças e voltou a sair.
Afinal, ele precisava de muito mais do que espaço.
Precisava daquela nova mulher com quem vivia, daquela nova vida, dos novos amigos, enfim, tinha passado uma esponja sobre a doce vida que tinham partilhado.
As amigas, que souberam ela não podia dizer como porque não fora capaz de coordenar ideias quanto mais pedir ajuda, vieram todas, aos montes, como carpideiras, chorosas e prontas a contarem-lhe detalhes que ela não queria ouvir, que lhe doíam como facadas.
Depois, desapareceram de mansinho, e pouco a pouco ela deixou de ser convidada para jantares e festas até ficar reduzida ao seu pequeno apartamento, aos dois filhos e às recordações.
Quando a encontravam, olhavam-na com comiseração estampada no rosto, a coitadita dela, como é que ia a vida, enfim, conversas de nada, vazias, desumanas.
Ali sentada, a contar as horas até os filhos voltarem para casa, não lhe saia da cabeça o mesmo pensamento.
Ninguém gosta de gente feliz, mas ninguém quer estar ao lado de gente infeliz.
 
 

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