Estranho mas verdadeiro
Um dia, sem razão aparente, por algo pequeno, o amor que existira entre dois seres humanos, aquilo que fora a base de uma relação longa, atribulada como todas as relações, desaparece sem aviso. Tantas provações, desilusões, alegrias em comum. Anos onde para além do amor, a amizade e cumplicidade tinha suportado tudo, feito frente à vida e mantido duas pessoas transformadas numa só. E depois, um incidente apenas, coisa minúscula, tem o poder de aniquilar tudo.
E, a partir desse momento, olhamos o outro e perguntamo-nos: Quem é esta pessoa que partilha a minha cama? Que faz aqui?
E nada volta a ser o que era. Perdeu-se a magia que torna possível suportar tudo e chegar ao fim do dia e saber que é ali que queremos estar.
Tudo se esvanece num simples momento. E o vazio, o silêncio instala-se. Ganha terreno, absorve as horas e não existe nada a não ser aquele padecimento da saudade do que um dia existiu.
Fica apenas esperar. Quantos não vivem juntos por não ter como se apartar, por inércia, por medo?
Mas uma vez que a gota de água atinge o copo, derrama-se sobre a mesa, o soalho, ganha volume e transforma-se num rio que pouco a pouco devora o que de bom existiu, deixando apenas um mar de lágrimas ou ainda pior, um mar negro e fundo e tão silencioso que corta a respiração.
A dor, essa, fica escondida dentro de cada um, embrulhada no orgulho e na contabilidade do deve e haver em que o amor se transformou.
É uma morte que já foi, só faltando enterrar o cadáver e ninguém parece ter coragem para o fazer.
É a vida.
in Destak 26.05.09