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Luísa Castel-Branco

OLÁ A TODOS! ESTOU DE VOLTA AO MUNDO DOS VIVOS!

Luísa Castel-Branco, 20.09.11

Desculpem-me a tão longa ausência mas foi por uma boa causa. E pronto! mal acabo a frase percebo a incorrecção da mesma. Quem dirá se foi ou não por uma boa causa serão os leitores do meu novo romance. E cada um terá a sua verdade.

Por mim foi pura incapacidade física em escrever outra cousa que não desenrolar do meu romance.

Este meu novo livro é um caso estranho, mesmo para mim que sou em tudo estranha e fora dos parâmetros da normalidade.

Comecei a escrever-lo há mais de uma ano e depois parei. Não era capaz de contar aquela história. Não queria contar aquela historia, aquelas vidas.

Mas não funciona assim. Pelo  menos comigo.

Atirei-me de cabeça a outro romance do qual escrevi mais de cento e cinquenta páginas e contudo, a minha cabeça, as minhas noites e os meus dias eram de uma enorme confusão e frustração.

O meu processo de escrita é uma forma estranha de estar viva, de acordar de manha e percorrer as horas.

O meu editor acalma-me sempre dizendo-me que cada escritor tem a sua própria forma de actuar.

E um dia, a minha querida Rosa Lobato Faria deu-me a maior ajuda possivel quando eu estava perdida a escrever a minha "Alma e os Mistérios da Vida" e ela me sossegou dizendo que fizesse como sentia que o tinha que fazer e nada mais.

E contudo, eu sei como se deve fazer. Li livros e mais livros sobre escrita criativa, cheguei a frequentar umas aulas que tive de desistir para ir trabalhar num novo projecto, enfim, as bases do que é correcto estão lá, na minha consciência,

Mas nada se passa assim.

De repente, uma cor, um som, um perfume, qualquer coisa ridícula traz até mim divagações. Apenas isso. E então começa o processo.

Tenho que estar ocupada a fazer seja o que for, senão não acontece esse estranho transe em que o meu subconsciente vive a par do consciente.

Pouco a pouco ELAS começam a surgir. Como fantasmas, como intrusos, nunca por convite.

ELAS, as personagens, começam uma dança na minha cabeça preenchida por diálogos, situações, pequenos apontamentos.

E é assim,  dia após dia, noite após noite.

Muitas vezes estou no meio de uma conversa e sinto perfeitamente que deixo de estar ali. O meu cérebro responde automaticamente aos outros mas o que é mais verdadeiro dentro de mim está a assistir a uma conversa entre as personagens, a um pormenor que de repente me ocupa toda a atenção.

E isto corre durante meses. Muitas vezes quando acordo de manhã estou exausta. Tanta coisa que aconteceu durante a noite!

Quando finalmente me sento ao computador, não sem antes ter tentado escrevinhar num papel os nomes, locais, momentos mais importantes, é como se alguém que não eu me possuísse,  tomasse conta do meu corpo e os dedos correm no teclado, marcando as teclas sem parar, até as dores me obrigarem a tomar um comprimido para poder retomar a faina.

 

 

Este novo romance esteve a crescer dentro de mim durante muito tempo. Escrevi desenfreadamente durante meses e depois parei. Não queria contar aquela trama, não queria continuar dia após dia a viver aquelas vidas.

Passado mais de seis meses desisti. Dei-me como derrotada e voltei á historia e acabei-a.

 

Cada vez acredito mais numa frase que li não sei onde e que dizia "É a narrativa que encontra o narrador e não o inverso".

 

As minhas personagens são os fantasmas que me enchem a cabeça, o corpo, os dias e as noites e a casa.

Meu Deus! A minha casa está um caos!

Ao longo de todo o tempo em que escrevo começo inúmeros projectos que me ocupem as mãos, porque não as consigo ter quietas.

E depois fica este desnorte de desarumação, desordem e caos.

 

Agora vou entrar na parte difícil de revisão do texto. É como olhar e ler e cheirar algo desconhecido mas que sei de cor e salteado.

"Quem foi que escreveu isto?

 

A editora ficou muito entusiasmada com o novo romance.

E eu também me senti entusiasmada por ter conseguido acabar a historia e dar descanso as almas que queriam nascer,viver,morrer.

Mas como sempre, é sol de pouca dura.

Este fim de semana estive a ler a pré publicação do próximo romance de Lobo Antunes.

Fico do tamanho de um alfinete!

O génio deste homem fascina-me.

Eu sou apenas uma relatora de historias que vêem não sei de onde.

 

 

Porém, o publico tem tido a amabilidade de gostar dos meus livros. E cada vez que alguém vem falar comigo no meio da rua, ou me envia um email e diz como as minhas palavras o tocaram, só posso agradecer com humildade.

Porque mais não mereço.