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Luísa Castel-Branco

Adeus, homem bom

Luísa Castel-Branco, 17.03.09
 
 
 

Igual a tantos seguramente. Gente desconhecida mas que marca a vida daqueles com quem lidaram, de quem os amou, ou simplesmente de alguém com quem por voltas do destino se cruzaram numa qualquer esquina da vida. Era um homem bonito. Os seus 75 anos tinham-lhe desenhando no rosto um mapa de rugas. Mas suaves, como suave era a sua pele e os seus olhos azuis, qual bebé da sua mãe que um dia fora!

Era é um ser tão agradável, tão amável, companhia mais prazenteira não havia, naquele misto de alegria envergonhada, sabedoria enciclopédica, mas sempre transmitida como se de coisa simples se tratasse.

Era um homem para quem a vida tinha sido de luta. De muitas quedas, muitas. Recomeçara várias vezes, como um gaiato que se levanta do chão, sacode os joelhos e pega de novo na bola. Era assim que ele tocava a vida para a frente.

Mas não havia assomo de tristeza no azul dos seus olhos, nos lábios finos e nas mãos elegantes e eloquentes. Tinha uma alma limpa. Tinha passos pequenos e leves, porque tudo nele era leve, não fosse incomodar alguém.

Ah! A voz doce deslizava como manteiga em pão quente. Gostava de ópera. Dos clássicos. Do cheiro da terra e do convite ao silêncio. Creio que acima de tudo amava a paz com tanta força como amava as duas filhas, e os irmãos.

Vida de luta. Vida de excessos. De amor, de lágrimas. Sei que o meu mundo diminui hoje drasticamente. Com a morte do meu Tio Luis Filipe, grande parte da minha história de sangue desapareceu. Sem ele, estou mais pobre

 

 

in Destak 17 | 03 | 2009 

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