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Luísa Castel-Branco

Para A.

Luísa Castel-Branco, 16.03.10

 

Sei que Deus tem um projecto para mim.
Mas por mais que eu procure não o encontro.

Os dias confundem-se com as noites e cada dia é mais difícil do que o anterior. Sinto-me vazia de forças, lágrimas ou sentimentos.
Pouco a pouco a apatia tomou conta de mim. Qualquer movimento é um esforço desumano.

Qualquer pensamento perde-se no nevoeiro que tomou conta da minha cabeça.
Como se fosse algodão doce, aquele que havia na feira quando eu era pequena.
Os perfumes de outros tempos, de outra vida que tive, esses estão tão presentes como as cores e os sabores.

Como se essa outra vida fosse quase um sonho idílico, sem máculas nem dores.
E ainda que eu saiba que é mentira, que esta tristeza que me veste já existia então, refugio-me nesse sonho por me recusar a viver nesta vida.

Talvez, afinal não haja projecto algum. Talvez nem haja Deus mas apenas aqueles desenhos que me amedrontavam nas aulas de catequese, a culpabilização que é a nossa segunda pele.

Talvez viver se resuma a isto. O cumprimento das obrigações, os anos que passam e nos vestem o rosto de rugas e o coração de decepções.
Talvez aceitar que melhor é impossível devesse ser o suficiente.

Tão logo chego a casa vinda do trabalho, escondo-me na cama.
É o meu casulo. O meu castelo. A minha mortalha também, eu sei.
Aos poucos cortei todos os cordões que me ligavam aos outros. Fechei-me dentro de mim. Não me telefonem, não batam à porta, não falem comigo.

Então, porque continuo a sofrer?

 

in Destak 15 | 03 | 2010  

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