Um murro no estômago
Tremi e arrepiei-me ao lê-lo, é tão real, tão incisivo que corta a respiração, pensei em mostrar á minha irmã que sente essa mesma dor desde Dezembro de 2007 porque é um retrato tão fiel do que se passa com ela ... e transcrito ... ... não sei se aguenta lê-lo ... mas vou tentar! Tento ajudá-la todos os dias e dar-lhe força para continuar, é uma luta diária e constante, um desgaste muito grande e por vezes sentimos que estamos a rumar para parte nenhuma, esse é o pior dos sentimentos, a impotência perante os factos da vida.
Tenho sempre esperança que o amanhã vai ser melhor e considero-me otimista , mas estou a fraquejar e por vezes, como agora sinto que me faltam as forças.
Em Março de 2006 foi-me detectado cancro da mama, fui operada com sucesso, fiz radioterapia, Tamoxifeno e Zoladex durante 2 anos e superei essa prova de vida. Em Janeiro de 2007, aos 41 anos fiquei viuva (o meu marido não sobreviveu a um acidente na escada do prédio onde habitamos) com dois filhos, o Filipe com 15 anos que foi a primeira pessoa a chegar ao pé do pai depois do acidente e que chamou o 112, e o João Pedro com 7 anos. Tempos dificeis em termos psicológicos, muito dolorosos. Como explicamos aos nossos filhos que o pai não volta mais? Como explicamos que os maus vivem e o pai que era bom morreu???
Como explico a mim mesma que o amor da minha vida, desde os 14 anos, o meu unico namorado, a minha cara metade, o meu noivo, o meu marido, o pai dos meus filhos ?????... ... mas sobrevivemos!
Em Dezembro de 2007, dia 23 mais concretamente iamos todos contentes passar o Natal a Comenda-Gavião , iamos a 70 km/h, a minha irmã perdeu o controlo do carro, capotámos, a minha sobrinha de 15 anos foi cuspida e não aguentou ... faleceu ali.
O meu filho Filipe foi o primeiro a aperceber-se que a prima-irmã tinha morrido e gritava com quanta força tinha"A CATARINA MORREU!"
O mesmo já se tinha passado quando do acidente do pai, eu cheguei logo depois dele ao patamar da escada e tentava chamar pelo Jorge, na tentativa de obter um sinal que fosse de vida e o Filipe da porta da escada a espreitar para fora á espera da ambulância, todo a tremer me dizia:"MÃE! LARGA O MEU PAI QUE ELE MORREU! O PAI MORREU, MÃE! NÃO VÊS?? O PAI MORREU!
Estamos todos juntos a dar forças uns aos outros para levar a vida por diante, porque por mais forte que seja a nossa dor sabemos que a vida deles acabou, mas a nossa continua. Vivemos um dia de cada vez, é a única maneira. Nem conseguimos ter uma conversa sobre o futuro porque ... não sei, mas fazer planos para o futuro até se torna anedótico, surreal ...
Em Setembro desde ano foi diagnosticado cancro do pulmão á minha mãe. Começou a fazer quimioterapia, parou os tratamentos á 3 semanas porque a medula deixou de funcionar como efeito secundário dos tratamentos. O tumor esta no mesmo estádio que antes do inicio dos tratamentos. Ela está débil e sem cabelo, metade do dia passa deitada, só sai de casa para ir ao hospital.
A minha irmã começou a trabalhar á 15 dias, esteve 2 meses de baixa com depressão!!
Eu ontem não consegui ir trabalhar, estou confusa e sem alento! Mas tenho os meus filhos!
Tenho sempre sido forte mas sinto que acabei as pilhas!
Obrigada pelas suas palavras
Desde há muito que é uma referência para mim e de vez em quando venho aqui espreitar mas nunca tinha tido coragem de escrever nada, hoje foi mais um desabafo!
Parabéns por ser como é
Maria Costa