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Luísa Castel-Branco

Hoje, eram onze horas e pouco da manhã

Luísa Castel-Branco, 20.11.08

 

 
Hoje o meu anjo da guarda desceu sobre mim e posou no meu ombro.
Vinha acompanhado por um arcanjo e um anjo jovem que, cansado de cerzir nuvens pedira licença para participar na viagem.
 
O meu anjo da guarda, sempre que penso nele imagino-o igual
as fadas do Peter Pan, qual Sininho brilhante e com asas transparentes, encostou-se no meu ouvido e sussurrou: Pára
 
Sei disto porque sei.
 
Sei que foi ele que me bloqueou os dedos nas teclas do computador e depois, de mansinho com as suas mãos mais minúsculas do que um dedal, levou o meu dedo até ao local preciso e limpou o texto.
 
Não que aquilo que eu estava a escrever não fosse certo, correcto e verdadeiro.
Mas por vezes, isso não é o suficiente.
 
O meu anjo da guarda ficou ali, seguramente pousado nos meus ombros, enquanto as lágrimas me caiam pelo rosto.
 
Só quando parei de solução ele voltou ao meu ouvido, ou então falou directamente com a minha alma, e fez-me cair na razão, postou diante de mim o futuro que três simples e dolorosos parágrafos iriam conduzir.
 
Não basta ter razão.
O amor verdadeiro tem capacidade para tomar conta desse tal futuro, fechar a dor dentro do peito e cozer a boca com um fio invisível.
 
Amar nem sempre é fácil, muitas vezes é tortuoso o caminho.
 
Mas o amor de mãe é tão imenso quanto o céu, tão profundo como todos os mares do mundo unidos num só local, tão inacreditavelmente belo e contudo, pode magoar como se nos arrancassem uma parte do corpo.
 
O meu anjo da guarda visita-me tão poucas vezes, penso agora para mim mesma, mas sem dúvida que se guardou para momentos tão importantes como este.
 
Não lhe disse adeus. Não me despedi. Ainda chorava seguramente, quando ele partiu.
A sua tarefa estava concluída e por isso eu lhe agradeço eternamente.