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Luísa Castel-Branco

Uma valsa a dois

Luísa Castel-Branco, 05.11.08

 

 
Saíste de casa e o teu perfume ficou preso no meu corpo, nas paredes, um cheiro misto de ti e de mim, como se fossemos ainda um só.
Saio para a rua, como se fosse um fantasma, como se me cruzasse contigo e também tu já não tens corpo, já não me pertences és apenas uma névoa que me acompanha, sinto os teus passos no passeio e contudo, estou sozinha.
A cidade traz-me imagens de quem fomos em todo o lado e a todo o momento.
Aqui fora, com NY como se fosse um palco gigante, ou tão pequenina que nos cabe dentro do coração, as esquinas têm o nosso nome escrito em letras invisíveis.
E por onde ando revejo os nossos beijos, risos, abraços e descobertas.
É por isso que quero sair do apartamento para a rua, e tu também.
Porque o que foi o nosso lar agora está carregado de lágrimas e palavras gritadas que escorrem pelas paredes.
Será que é de vez?
 
Não ouvi a porta da rua. Estava cá em cima, na varanda do telhado, com a cidade a dormir e ao mesmo tempo tão acordada, tão plena de vida e de cor.
Uma melodia surgiu não sei de onde. Nina Simone? Não sei, deixei-me ficar e não sinto frio, não sinto nada.
 
Foi quando te chegaste a mim, envolto no silêncio ou então eu estava adormecida na música, pegaste-me no braço e dançámos, dançámos.
Ah! Meu amor!
Neste momento e por magia, NY desapareceu, as estrelas e as luzes da cidade fundearam-se numa amálgama de outro mundo e a música tomou conta dos nossos corpos.
 
Ah! Meu amor, vamos ficar aqui para sempre, envoltos no escuro que tem milhares de luzes, nos múltiplos ruídos da cidade que se desvaneceram porque a música os devorou, vamos ficar aqui só nós dois porque o mundo não existe para além dos nossos corpos que de tão unidos se transformaram uma vez mais, num só!