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Luísa Castel-Branco

A ausência de ti

Luísa Castel-Branco, 28.11.07

Acordava todos os dias, a esticar os braços e a procurá-lo na almofada, as mãos a perfurarem o espaço para lhe fazer o carinho habitual.

Esquecia-se. Como num ritual, esquecia-se todos os dias que o corpo dele já ali não estava, que o frio do lençol era a resposta diária aos seus movimentos.

O mesmo se passava pela casa toda, pelos dias que corriam e ela sempre num estado de semi-inconsciência, que outra coisa se podia chamar aquela incapacidade de aceitar que ele partira para sempre?

Muitas vezes, quando caminhava na rua, o frio a bater-lhe no rosto, como agora, nestes dias em que o Natal se aproximava e a cidade cobria-se de cores, falava sozinha pelo passeio, como se o tivesse a seu lado e ambos, naquelas conversas que mantinham ao longo dos anos, pontuadas pelo pormenor de cada um acabar as frases do outro, como se efectivamente ele ali estivesse.

Contudo, perante os outros, mantinha a sua postura, embora a névoa que lhe cobria o rosto fosse indisfarçável, tentava que ninguém tivesse pena dela e, principalmente, que ninguém referisse o nome dele.

Ele que tinha partido para sempre era grande de mais para pequenas conversas de circunstância.

E, assim, mantinha-se viva, vivendo com a sua ausência, numa dor que era um misto de surpresa e uma força tenaz de ignorar a realidade.

O amor não morre. E quem o disser não sabe do que fala.

in Destak 27.11.07

Deixem-me rir!

Luísa Castel-Branco, 21.11.07

«Olhai! Outra queixinhas!!! Outra Castel-Branco!!! Ide para casa, lavar a louça!!! Chiça!!!!" X | 15.11.2007 | 01.38H

Cara Directora,

Com que então atreveu-se a escrever um editorial sobre o rol de idiotices que os internautas, a coberto de pseudónimos ou simplesmente anonimamente escrevem por aí? Mas que inconsciência! Já viu o resultado? De fascista a Barbie, até às profundas ligações ao poder, até "pseudo" jornalista, só faltou mesmo descobrirem que é culpada pelo défice ou pelo buraco do ozono! O espantoso é que a Directora deste jornal pensou que estava a redigir um texto facilmente compreensível para o comum dos mortais. Erro crasso! Aqueles que gostam de se ler não gostam de perceber o que se escreve e, portanto, o resultado é chegarem à fantástica conclusão, que o dito artigo sobre uma das realidades deste mundo virtual tinha exclusivamente a ver com as críticas que lhe tinham sido feitas a si, anteriormente e em qualquer um dos seus editoriais. Coloquei bem em Destak, aqui na minha crónica no Destak, uma das pérolas que constavam do role dos comentários.

E, com este exemplo, está tudo dito! Quem é que a mandou nascer mulher? E termino com a reprodução de mais um dos deliciosos comentários: «...aqui a bacana tem mesmo pinta de quem gosta de pisar em cima do pessoal como quem apaga uma beata com o pé, mas não tem sorte com o pessoal porque o pessoal sacalhe os sapatos para ela não pisar o pessoal.» XUTA-CAVALO, CASAL-VENTOSO | 18.11.2007 | 18.58H Lindo!

In Destak 19.11.07

Maravilhoso!

Luísa Castel-Branco, 09.11.07
Está espantosa esta definição. Só mesmo vinda de uma criança!·Artigo redigida por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal do Cartaxo. Uma delícia!

 Definição de Avó:

 Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos
filhos dos outros.
 As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.
 Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas, nem as lagartas
Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos
 Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma
fatia maior.
 As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
 Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se
importam
 de contar a mesma história várias vezes.
As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.
 Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.
 Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo
se não tiver televisão"

*Amavelmente enviado por Emilia Barbera

Morrer sem ter um colo

Luísa Castel-Branco, 06.11.07

Nunca ninguém me pegou ao colo, me embalou, tomou conta de mim e me levou até aos céus. É assim que vou morrer, sem saber o sabor da acalmia da mente, da alma, como uma praia infinita de areia branca e águas transparentes, uma floresta de múltiplos verdes em que o vento deposita uma dança maravilhosa, numa melodia impossível de descrever.

Vou morrer virgem de tantas coisas, de tantos sentimentos e sensações que nunca provei, que não sei como são. Se o destino existe, e se ele se prende com reencarnações sucessivas, a essa outra que virá um dia eu desejo a paz de espírito, sem assombros de fantasmas da infância, sem o peso de todos as responsabilidades e principalmente sem esta lucidez que, como um espelho gigante e multifacetado, mostra-me clara e nitidamente os meus erros, omissões e faltas. Tenho saudades do que não conheço, mas que revejo na vida dos outros.

Tenho pena desta minha existência, desta passagem pela vida, tão imperfeita, tão pouco tantas coisas e tantas outras. O irónico é que, desde que me lembro de ser gente, sonhei com esse colo, esse abraço protector, esse escudo contra o medo, as tempestades, os desgostos ridículos e as amarguras de lágrimas de raiva e sangue. Sonhei-o, a esse meu cavaleiro andante. Nada de especial, nada de fantástico. Apenas alguém suficientemente bom, inteligente e capaz de me amar como sou, de me conhecer para além do óbvio e de me cuidar, como se fosse um pedaço de jardim, um livro antigo ou uma peça sem outro valor senão o da saudade.

in Destak 6.11.07