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Luísa Castel-Branco

Traído pelo próprio sangue

Luísa Castel-Branco, 29.04.08

Afinal de que é que tinha servido a vida? A contenção, o dizer não às tentações, pensar sempre em primeiro lugar na família, nela, nos filhos? De nada, absolutamente nada!

Isto pensava ele enquanto conduzia vagarosamente, sem prestar atenção ao caminho, que o carro já o conhecia de cor. Dentro da sua cabeça, as perguntas sem resposta e as imagens da destruição do seu lar misturavam-se numa confusão sem fim. Anda um homem a trabalhar horas sem fim para dar uma vida confortável aos seus, e é isto que recebe! A revolta era tanta que lhe cortava a respiração. Ainda me dá um ataque cardíaco, é o que é! Limpou a testa, afinou o espelho retrovisor e continuou a conduzir. Quando deu por si estava à porta de casa. E forças para subir? Traído pelo seu próprio sangue, pela esposa a quem era tão fiel como um cão.

Traído! Encostou o carro, desligou o motor e para ali ficou com o tempo a correr e ele sem se mexer. Eu devia pegar na mala, hoje mesmo, e sair! Quando arranjou forças para entrar no prédio, subir no elevador e meter a chave na porta de casa, respirou fundo, sabendo perfeitamente que o inevitável ia acontecer.

Contudo, eles tinham retirado tudo! A casa voltara ao normal. Ela na cozinha a sorrir-lhe, e os dois rapazes a levarem o jantar para a mesa. Sentiu um alívio sem tamanho, e escondeu uma lágrima. Enfim, o seu lar estava salvo! A águia do Glorioso colocada bem no centro da mesa, as bandeiras no seu respectivo lugar. Sentaram-se para jantar e ele ficou seguro de que nunca mais ninguém naquela casa se atreveria a afrontá-lo. Porque o amor de um homem pela sua esposa e pelos seus filhos resiste a tudo, absolutamente tudo. Exceptuando às comemorações do Tri do Futebol Clube do Porto, porque um homem, caramba, não é de ferro!

in Destak 29.04

NOTICIAS NO FEMININO

Luísa Castel-Branco, 23.04.08

"Alta velocidade: ninguém te vai achar grande". Numa analogia entre o excesso de velocidade e o tamanho do pénis, foi com este slogan que uma campanha australiana de prevenção rodoviária tentou chegar aos condutores mais jovens. O governo diz que o método já revelou ser "eficaz".

Os anúncios de televisão mostram mulheres a dobrar o dedo mindinho quando os condutores passam em alta velocidade. Um gesto que dá a entender que quem guia tem esta atitude porque, na realidade, tem um pénis pequeno. De acordo com os responsáveis pela campanha, a ideia surgiu após constatarem que os jovens estão tão habituados a cenas de acidentes e feridos na televisão que esse tipo de imagens não os impressiona. No entanto quando se toca numa possível falta de virilidade, o caso muda de figura.

O público-alvo são jovens do sexo masculino, com idades entre os 17 e os 25. Segundo dados divulgados pelo próprio governo australiano, mais de 60 por cento dos jovens entrevistados após o lançamento da campanha admitiram que repensaram os seus hábitos de condução. Além do spot televisivo, a campanha foi também lançada em outdoors, anúncios no cinema e na Internet.

Embora já tenha sido acusada de discriminação, a agência de Trânsito do Estado de Nova Gales do Sul, responsável pela publicidade, afirma que "os egos feridos são um preço baixo a pagar se os anúncios ajudarem a salvar uma vida".

in Expresso Abril/08

Recordar coisas simples

Luísa Castel-Branco, 22.04.08

Gosto do rasgo branco nos céus, quando os aviões deixam pegadas, como se fossem sinais de luz branca.

Gosto do vento, mesmo quando tenho medo, quando uiva de tal forma que parece que o demo desceu à terra.

Gosto da chuva. Do cheiro da chuva. Do sabor da chuva. Do perfume a terra molhada, a roupa a secar. E do aroma da madeira a estalar na lareira, azevinho a perfumar a casa.

Gosto da luz da cidade, quando o dia nasce e se reflecte nos telhados, ou quando o sol se põe e uma estranha cor, meio rosa, meio cinza, aflui vinda não se sabe de onde e abraça os telhados, a calçada e desagua no rio.

O que vou recordar, no momento em que me despedir desta vida? Isto tudo? Ah! Tenho por certo que não.
Seguramente que partirei a sentir o odor dos meus filhos quando nasceram, do primeiro ao último sorriso. Do primeiro ao último beijo. Aqui sentada a olhar o céu que escurece, uma mistura de sons, perfumes e paladares marcam-me como dedadas.

A vida é pouco mais que isto. Quedar-me imóvel como se pertencesse à paisagem, e o amanhã não fosse importante porque não existe. Só o aqui e o agora.

Com os anos, a visão que temos do mundo vai-se transformando, primeiro num alvoroço e depois, quando a idade começa a pesar, de forma lenta mas enexorável.

Os pensamentos entrelaçam-se numa languidez que nos entorpece o corpo, com as memórias de outros tempos, recordações que ficaram. Dou comigo muitas vezes a imaginar como será essa última etapa da minha vida. E espero conservar esse bem inestimável, a memória dos dias felizes, dos risos e do perfume do meu lar.

É quanto basta.

in Destak 22.04

Boa noite e um sorriso!

Luísa Castel-Branco, 17.04.08

Cheguei agorinha ao hotel aqui na Invicta, saida do programa do Porto Canal, para ir dormir a correr que amanhã vou para a RTP1 às 8h30 para estar no arranque da Praça da Alegria.

Ontem estive no programa Portugal no Coração e na Prova Oral na Antena 3.

E explico-vos estas minhas andanças para me desculpar de não agradecer a cada um os parabéns. que me souberam como chocolate na boca!

E estou feliz, desculpem a falta de modéstia, pelas novidades no blog. Com ajuda preciosa , lá consegui entrar um pouco mais nestes universo da Net com tantas possibilidades!

 

De aventura em aventura se faz a vida. Que é como quem diz, uns dias tristes e outros alegres.

Hoje, nesta noite plena de chuva e ventania aqui da cidade do Porto, envio a todos um SORRISO.

Bem hajam pelas vossas palavras!

A Feel Woman vai agora para o Porto

Luísa Castel-Branco, 15.04.08

Desta vez é a Invicta que vai receber este evento totalmente dedicado ao universo feminino. Na Exponor, no próximo fim-de-semana, de 18 a 20 de Abril.

Em Lisboa, o certame foi um sucesso e o mais curioso é que, embora os visitantes fossem na sua maioria mulheres, também apareceram homens e alguns afoitaram-se a entrar naquele mundo de experimentação. Bronzeamento e massagens, muitas perguntas sobre culinária, e por ali se ficavam.

Creio ser compreensível. Não é de forma ligeira que um homem em Portugal se afoita a fazer em público uma limpeza de pele ou uma consulta de imagem. E, contudo, o crescimento das cirurgias plásticas deve-se aos homens, imaginem!

Mas não é só neste aspecto que eles são mais reservados.
O macho português continua, na maior parte das vezes, a privar pela discrição no que concerne aos cuidados que passou a ter consigo mesmo. Salvam-se as idas ao ginásio, que isso já não parece mal a ninguém.

Mas a razão principal pela qual vale a pena visitar este certame, para quem vive na Invicta e arredores, é permitir a descoberta deste tal universo feminino. Para além da beleza, e tudo o que lhe está relacionado, áreas como a saúde ou o Empreendedorismo Feminino, estão ali para informar e interagir com os visitantes.

E é exactamente esta característica tão própria das mulheres que mais me encanta. Estamos interessadas em saber o que de novo existe para nós em todas as áreas. E somos capazes de misturar o lado lúdico da vida com as informações mais fundamentais para a nossa independência, como saber quais apoios que a última tranche dos fundos comunitários nos podem ser úteis, nem que seja para a concretização de um pequeno sonho.

In Destak 14.04.08

54 anos hoje!

Luísa Castel-Branco, 12.04.08

É verdade, hoje faço 54 anos. Algumas primaveras, alguns invernos, mas estou aqui e estou feliz por estar viva.

É tão simples como isso.

Desde há quatro anos para cá, quando tive um AVC , quando deixei de ler e escrever, quando senti a vida a fugir de mim, passei a agradecer a Deus, aos Deuses todos, cada ano que passa.

Sempre gostei de fazer anos, e nunca sofri daquele síndrome da idade. Descobri mais tarde que a única razão pela qual não me preocupei por fazer trinta e quarentas era porque não tinha sequer tempo para pensar nisso.

Porque, é esse o custo da notoriedade, o que é o mesmo que dizer a memória de muitos que tem a validade de um iogurte, e não interessa nada (pobres dos que imaginam outra coisa!) as pessoas olham para mim, e a imagem que transmito é de uma mulher forte, sem duvidas, alguém a quem a vida sempre correu de feição.

Chegada aqui, tenho que reconhecer que sou forte, mas se há algo que não foi nunca fácil foi a vida. E mesmo sabendo que há tantos e tantas muito pior do que eu, sei o que foi a minha luta.

Por esta altura, muitos dos que me lêem pensam que estou a "chorar de barriga cheia".

Não gosto nem nunca gostei do papel de coitadinha, da vitimização sistemática.

E ao longo destes oito anos em que através da televisão me tornei alguém que algumas pessoas reconhecem, nunca, em momento algum deixei de dizer o mesmo.

Simplesmente as pessoas não acreditam . Preferem continuar a olhar para mim e a acreditar naquilo que para elas eu sou.

Mas sei o que é não ter dinheiro para dar de comer aos meus filhos.

Sei o que foi viver e educar três filhos só e chegando a ter quatro empregos diferentes para fazer face às despesas.

E apenas posso dizer que tive sorte, e que a sorte me deu muito trabalho a fazer!

Olhando para trás, e neste dia que rejubilo por estar à espera dos meus filhos e da minha neta para almoçar, para me rir e chorar de alegria, sei que tenho por obrigação agradecer à via.

Ter-me dado forças para lutar. Ter-me dado mais uma chance para ver os meus filhos crescerem e a minha neta , e os  outros que um dia virão.

Mas se hoje deixo aqui este desabafo, na partilha que faço convosco, é apenas para, e uma vez mais, dizer alto que a vida é uma luta. Batalhas que ganhamos e muitas perdemos.

Mas que vale a pena, lá isso vale.

Um bom fim de semana para todos, e o meu mais profundo obrigada pela vossa participação neste blog, na minha vida, nos meus sonhos e aspirações.

Luísa

Eu e eu mesma

Luísa Castel-Branco, 10.04.08

Ontem, em noite longa de insónia, desabafei com um leitor sobre o meu novo projecto, não, não estou a ser exacta, porque seria um projecto novo se fosse de agora, mas tenho-o dentro de mim desde que me lembro, e a execução essa é que vai ser agora.

Estou a falar do livro que vou publicar, do meu primeiro romance, e apercebo-me de como é fácil conversar aqui neste cantinho.

Nem é ainda tempo para falar do assunto, mas sinto-me em casa, aqui convosco.

Daí o desabafo sobre o medo, a insegurança que é ver crescer um texto, as personagens tomarem forma, e de repente, quer dizer, mais de ano e meio, e só em momentos roubados ao dia a dia, ali está ele, o livro.

Agora ando na fase da revisão.

E podem não acreditar, mas não tinha lido o texto todo nestes quase, quase dois anos e quando o fiz por ser necessário, deu-me um aperto no estômago que nunca mais saiu. Nem vai sair.

Dêem-me os directos de televisão e rádio que quiserem, mas um livro, é coisa séria, coisa que fica para sempre e não, como tudo o resto, que não tem validade nenhuma, nem memória.

Estou com as dores de parto, segundo me diz a editora!

Uma leitora enviou-me um amável comentário.

Mas eu tenho um enorme medo de falhar, de ser incompleta, de desiludir as pessoas.

O que é que isto faz de mim senão um ser humano normal, igual a todos?

Conto os dias. Efectivamente parece que vou ter um filho ( com as devidas proporções, claro) mas conto os dias com os dedos e quanto mais se aproxima o dia em que o dito livro vai estar nos escaparates, mais insónias tenho!

Há dias li um cronista/escritor dizer que o seu livro estava a vender lindamente porque era excelente.

E pensei para mim: Aqui está algo que eu não posso dizer!

Excelência é a forma como a Agustina tricota as palavras. Como o Lobo Antunes nos agride na cara, enfim, talvez seja a idade, mas tenho a perfeita noção da minha pequenez.

Obrigada por me aturarem os desabafos!

Obrigada

Luísa Castel-Branco, 10.04.08

Gosto de ti.

Gosto do cheiro da terra molhada e gosto da chuva de inverno e do nevoeiro Gosto de me deitar à noite e recordar o perfume das minhas recordações.

...

Gosto de quando amo , amar assim, desgovernadamente, tão forte e irracional.

.. não sei onde li isso.. sei que é SEU... que era apenas SEU !

mas... agora também é meu, porque eu li, est á dentro de mim... e

ninguem me pode tirar... agora é MEU.

 

GOSTO DE SI.

 

 

José Luís

Meu caro,

Nada melhor para tentar matar a minha insónia do que esta mensagem que me enviou.

Quem sabe se estou carente de palavras doces, ou simplesmente o sono que não vem deixa-me a cabeça demasiado livre...

Mas, como não acredito em coincidências, deixe-me contar-lhe um segredo.

Vou lançar-me na maior aventura da minha vida, aquela que só fica atrás do meu papel de mãe.

Aquela com que sonhei a vida toda, e estou apavorada!

Porque a televisão aconteceu por acaso e a escrita, para mim é tão n necessária como o ar para respirar.

Vou lançar o meu primeiro romance. Tremo só de o dizer !

Mas, por entre o medo e esta urgência em largar o livro na rua, que já não é meu, já tomou asas e voou, as suas palavras vieram dar-me alento.

E agora posso ir dormir. Obrigado.

"A saudade é fechar a porta do quarto do filho que morreu"

Luísa Castel-Branco, 08.04.08

Arrancaram metade de ti, amputaram metade de ti e tu para aqui ficaste, a fingir que vives, a fingir que estás cá mas é mentira.

Encolhes-te quando alguém fala com medo que digam o nome dele, com medo do sacrilégio de alguém seja quem for, até o teu marido, mencionar o nome dele, que ninguém tem esse direito, ninguém.

Morreste no momento em que o teu filho morreu, e não estavas lá, não pudeste pegar-lhe na mão e ampara-lo uma ultima vez.

E amaldiçoas esse momento, esses segundos que o Universo te roubou, porque já perdeste as forças para encontrar respostas para o que aconteceu, e então, revoltas-te contra a tua ausência perto do teu menino naquele momento em que subiu aos céus.

Não que encontres consolo ou acalmia na certeza de que ele lá está lá em cima, perto de Deus, desse Deus com quem cortaste relações para sempre, porque te roubo o maior bem da tua vida, a tua razão de existir.

Os dias correm e sabes pelos outros que os anos passam, que tu não tens a noção, ficaste presa naquele dia, naquele momento, naqueles segundos.

Os outros, acreditam realmente que o tempo tudo cura.
Mas os outros não tiveram o teu menino no ventre, não o pariram, não o embalaram nem lhe limparam as lágrimas.
Para ti, todos os dias são iguais. E passas à porta do quarto dele, onde não autorizas-te ninguém a mudar um simples papel: "Mariana, está na altura" e tu que te fingis surda.

Todas as noites abres a porta de mansinho, entras no quarto dele, e sentas-te na borda da cama.

E choras, choras mesmo quando já não tens lágrimas, em silêncio.

Que interessa o mundo fora daquele quarto?

in Destak 8.04.08

Falsos "bons selvagens"

Luísa Castel-Branco, 02.04.08

Uma leitora enviou-me um e-mail perguntando o que pensava eu sobre o caso da pequena Marilu e do alegado assassino ter já cadastro como pedófilo, tendo inclusivamente abusado da filha de cinco anos e continuado a viver com ela.

A leitora mostrava-se indignada e questionava o que se passava no mundo e porquê. Creio que este é o sentimento da maior parte de nós, quando lemos, ou vimos as noticias.
Sabemos que este tipo de perversidade sempre existiu. Será hoje apenas devido à rapidez com que nos chega a informação que temos uma noção mais concreta?
Talvez. Mas a verdade é que entre as múltiplas coisas maravilhosas que o mundo da internet nos trouxe, deixou também lugar a áreas perversas, quando utilizadas por pessoas perversas.

Quando a polícia nos mais diversos países prende centenas de pessoas porque utilizam este meio para aceder à pornografia infantil ou mesmo "comprar" a utilização de menores, é porque efectivamente uma nova fronteira do lado mais repugnante da humanidade veio à superfície.
Quando leio ou ouço as explicações dos especialistas sobre o pobre do predador, que foi abusado em criança e por isso mesmo não é imputável do crime, ou que pelo menos existem circunstâncias atenuantes, fico verdadeiramente chocada.

Podem estar certos, mas a verdade é que não me interessa.
Nem a mim, nem às crianças violadas ou raptadas, nem aos pais destas. O ser humano, e contrariando a ideia do "bom selvagem", é um ser que necessita de regras, punição, limites.

E se errar deve ser penalizado duramente. É ai que a nossa lei, como pelos vistos a da vizinha Espanha, está desajustada a esta nova realidade.

in Destak 1.04.08