Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Castel-Branco

Que Igreja é esta?

Luísa Castel-Branco, 31.03.10

A vulnerabilidade das crianças toca qualquer ser humano. Quando vimos as imagens de guerras, fome ou cataclismos naturais basta o rosto de uma só criança para termos a noção da tragédia. Quando falamos do abuso de criança, a nossa ira sobe e tom. E quando esse abuso é perpetuado por membros da Igreja, seja ela qual for, então o choque é muito maior.

O que se passa neste momento com a Igreja Católica deixa-nos sem palavras, e que é mais perturbante, estes relatos que todos os dias aparecem vindos de todas as partes do mundo ou a atitude da própria Igreja?

Ouvi D. Januário numa entrevistas à televisão chamar pela primeira vez à responsabilidade os bispos e restantes membros da instituição que ocultaram durante anos estas situações abomináveis. Mas o resto do clero, mesmo aqui em Portugal pensa de forma diferente. Para todos os católicos este é um momento de uma infinita tristeza, e também de orfandade.

Podemos discordar de várias posições que a Igreja tem tomado. Podemos mesmos sentir que esta Igreja se afasta cada vez mais da realidade dos nossos tempos.

Mas encontrar justificação para o encobrimento de crimes que deviam ser severamente punidos, permitindo mesmo que os criminosos continuassem a abusar de menores durante décadas é total e absolutamente impossível. Existem seres humanos bons e maus em todos os lados. É exactamente para não permitir, ou assim deveria ser, o abuso dos mais fracos que a lei existe.

A partir do momento em que um padre abusa de uma criança a sua punição não pode ser da responsabilidade da Igreja mas sim da justiça igual para todos.

Num momento de tão grande crise económica, ética e social, era de esperar que a Igreja de Roma desse um exemplo firme e claro sobre o que é certo e o que é errado, sobre causa e consequência. Infelizmente, também na fé continuamos sós e desiludidos.

In Destak 29.03.10

Quem tem medo de Pedro Passos Coelho?

Luísa Castel-Branco, 23.03.10

As eleições para o próximo presidente do PSD transcendem o partido porque conjugam as esperanças mesmo de muitos que nunca foram simpatizantes do partido. Portugal vive uma crise sem precedentes e necessita desesperadamente não de um salvador mas sim de alguém com ética e honestidade, com sentido de responsabilidade e uma visão de futuro.

Aliás, foi assim que o Sócrates ganhou as eleições. Uma boa parte dos portugueses acreditaram nele e na mudança prometida. Infelizmente, fomos enganados.

Eu acredito em Pedro Passos Coelho. Não porque sou amiga dele há mais de 25 anos. Não confundo amizade com o futuro dos meus filhos e da minha neta, do meu país. Apoio-o porque ao longo destes anos todos o vi manter-se fiel aos seus princípios. Aguentar as críticas que lhe eram feitas sem resvalar para as lutas baixas.

No último pseudocongresso, feito unicamente para dar espaço aos recém-chegados candidatos, o meu amigo Pedro fez uma afirmação que interessou a muita gente deixar passar despercebida.

Quando terminou os seus mandatos como deputado e vice-presidente da bancada do PSD, Passos Coelho rejeitou a reforma dourada a que tinha direito por considerar indigna face aos outros portugueses, embora até os deputados do PCP a recebam. Fê-lo porque não precisava do dinheiro? Não, bem pelo contrário! Tinha filhas a sustentar e tirou o curso de economia sempre a trabalhar.

Em vésperas de eleições, Ferreira Leite, responsável juntamente com toda a sua Direcção pela falta total de oposição ao PS (não nos tomem por estúpidos, temos boa memória: Paulo Rangel e Aguiar Branco também lá estavam) afirmou há dias numa entrevista: “esperar que o próximo líder do PSD ganhasse não pela aparência física mas pelas ideias”.

Palavras para quê? É isto o PSD de hoje. É isto que temos de mudar a bem de todos.

 

in Destak 22 | 03 | 2010 

Para A.

Luísa Castel-Branco, 16.03.10

 

Sei que Deus tem um projecto para mim.
Mas por mais que eu procure não o encontro.

Os dias confundem-se com as noites e cada dia é mais difícil do que o anterior. Sinto-me vazia de forças, lágrimas ou sentimentos.
Pouco a pouco a apatia tomou conta de mim. Qualquer movimento é um esforço desumano.

Qualquer pensamento perde-se no nevoeiro que tomou conta da minha cabeça.
Como se fosse algodão doce, aquele que havia na feira quando eu era pequena.
Os perfumes de outros tempos, de outra vida que tive, esses estão tão presentes como as cores e os sabores.

Como se essa outra vida fosse quase um sonho idílico, sem máculas nem dores.
E ainda que eu saiba que é mentira, que esta tristeza que me veste já existia então, refugio-me nesse sonho por me recusar a viver nesta vida.

Talvez, afinal não haja projecto algum. Talvez nem haja Deus mas apenas aqueles desenhos que me amedrontavam nas aulas de catequese, a culpabilização que é a nossa segunda pele.

Talvez viver se resuma a isto. O cumprimento das obrigações, os anos que passam e nos vestem o rosto de rugas e o coração de decepções.
Talvez aceitar que melhor é impossível devesse ser o suficiente.

Tão logo chego a casa vinda do trabalho, escondo-me na cama.
É o meu casulo. O meu castelo. A minha mortalha também, eu sei.
Aos poucos cortei todos os cordões que me ligavam aos outros. Fechei-me dentro de mim. Não me telefonem, não batam à porta, não falem comigo.

Então, porque continuo a sofrer?

 

in Destak 15 | 03 | 2010