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Luísa Castel-Branco

Mil desculpas

Luísa Castel-Branco, 08.04.10

 

Boa - Tarde,
sou uma aluna de Literatura Portuguesa do 11º ano da Escola Secundária do Castêlo da Maia e no âmbito de um projecto que tenho vindo a desenvolver, li o seu romance de estreia «Alma e os mistérios da vida», livro que me foi oferecido aquando o seu lançamento.
Então, um dos pontos que gostaria de frisar no meu projecto seria a sua biografia e tinha muito gosto que a Luísa me respondesse a umas pequenas perguntas, para dar um toque especial e original ao meu projecto.
Certa do seu bom entendimento, aguardo uma resposta breve para o meu e-mail (riteinha_4@hotmail.com)
Ana Rita Moreira.

 

 

Ana,

Mil desculpas pelo atraso. Por favor envie as suas perguntas para o email do blog. Terei todo o prazer em lhe responder.

Um abraço amigo,

Luísa

Nós merecemos

Luísa Castel-Branco, 07.04.10

Vou cobrir a nossa cama de pétalas, encher as jarras de folhas de hera, a caírem pelos móveis, como se um jardim encantado tivesse tomado conta da casa. Depois, espalharei velas pela casa, velas de todos os tamanhos e cores, e perfumes, incensos e folhas de eucalipto em lume brando. A música suave, doce, embalar-nos-á de mansinho. Enganaremos as horas, a noite transformar-se-á em dia e o dia mergulhará nas trevas e nós dois sem darmos por nada. Com amor e com afecto vou fazer o teu prato predilecto como dizia a canção. E fecharei a porta a cadeado, as janelas bem cerradas porque o mundo inteiro não nos interessa mais. Lá fora ficaram os outros, os problemas, as desilusões e todos os medos. Vamos dançar descalços na sala, a sentir a pele roçar no tapete, a sentirmo-nos voar e voar para tão longe. Adormeceremos abraçados um no outro, como se fôssemos um só corpo, um só ser, um único coração a bater compassada e docemente. Porque sabes, meu amor, nós merecemos. São já muitos os anos passados a dois, a lutar diariamente, a educar os nossos filhos, olha para eles, homens feitos e tão perfeitos! Agora é o nosso tempo. O tempo está todo à nossa disposição, os tempos que ainda temos juntos. Porque o nosso amor é isto mesmo, as recordações de mais de trinta anos em comum, as mesmas lágrimas e os mesmos risos. E não te rias de mim quando entrares a porta e vires as primeiras velas, e saboreares a miscelânea de perfumes e o som da música, a música com a qual dançámos a primeira vez. Recordas-te, meu amor? Éramos tão jovens e tudo era possível!