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Luísa Castel-Branco

Adeus Amigo, até amanhã

Luísa Castel-Branco, 18.05.10

 

 

Não fui ver-te ao IPO porque sabia que o não querias. Estou certa que não quiseste que ninguém te visse, frágil, doente, nessa contagem decrescente e tão incrivelmente dolorosa para a morte.

E agora que partiste, guardo-te dentro de mim como a ultima vez que te vi, e ao mesmo tempo, tu e eu tão jovens e com a vida toda pela frente! Tu, o nosso cavaleiro andante, o revolucionário, o grande apaixonado. Haverias de cumprir aquilo que já então se adivinhava, e viveste de forma excessiva, as paixões, os vícios e tudo o resto.

Muita gente que te chora neste momento, e muitos conheceram-te bem melhor do que eu basta-me pensar nos teus filhos que tanto amaste, mas que queres, quando a amizade nasce tão cedo assemelha-se em tudo ao amor. Não me surpreendeu a tua morte, sempre pensei que partirias muito cedo. Viveste sempre a sorver cada dia como se fosse o ultimo, e pensei que um dia o teu coração se partiria de verdade.

Porque o teu coração estava tão cheio, Fernando! Qual D. Quixote armado apenas pela sedução dos ideais, o cigarro ao canto da boca e aquele ar de perdido, de quem busca algo que não sabe o que é. Somos do tempo das grandes conversas, do tempo em que havia tempo. Ainda que tu não conseguisses parar quieto, como se algo te perseguisse ou era apenas a tua urgência em te sentires livre.

Somos do tempo dos sonhos impossíveis e tu e eu andámos por aqui a fazer o que esperavam de nós. Sei que não encontraste a resposta para a pergunta que nunca descobriste qual era. Discordamos em tantas coisas. Mas agora, chegados aqui, tu partiste e não acreditavas (ou pelo menos assim dizias) que algo existisse depois da morte. Mas eu acredito.

Não sei em quê, nem como se chama, nem que forma tem. Mas sei que te verei novamente, um dia. E até lá, deixa-me que te beije uma vez mais, enquanto tu me dás piropos que eu sei não mereço.

 

 

in Destak 17 | 05 | 2010 

O mistério do futebol

Luísa Castel-Branco, 14.05.10

 

Seguramente que é falta de conhecimento meu, por isso peço-vos ajuda. Há mais algum país na Europa em que o facto de um clube de futebol ganhar um campeonato leve a que todas, notem bem, todas as televisões estejam das oito da noite até à uma da manhã ininterruptamente a passar imagens repetidas e repetitivas do jogo, das declarações dos jogadores e do treinador e do presidente do clube e do povo que se engalfinha e sobe a estátua do Marquês de Pombal e quando entrevistado parece ser incapaz de formular uma simples frase com sentido?

Seguiram-se as rádios em uníssono e, claro, hoje têm todos os jornais com as mesmíssimas imagens de ontem!

Não tenho nada contra aqueles que gostam de futebol, aliás conheço gente muito inteligente que vira imbecil perante onze homens em calções e uma bola.

Mas pronto, são felizes quando o clube ganha um jogo, miseravelmente infelizes quando o dito perde, mas nunca sofrem de falta de assunto, porque isto do futebol é um mistério, que vai muito para além da dita bola.

Por exemplo, os mesmos desgraçadinhos que ontem comemoraram a maior felicidade das suas vidas, o facto de o SLB ser campeão, vão constatar daqui a pouco que os dirigentes do clube vão vender os principais jogadores que contribuíram para o tão almejado título.

E, para o ano, Deus os abençoe, lá estarão eles todos a chorar-se pelos cantos e nos comentários televisivos.

in Destak 11 | 05 | 2010  

 

Comentário:

Os leitores do Destak on-line são um óptimo exemplo do Portugal de hoje. Aconselho vivamente uma visita para lerem os comentários! 

A Educação em Portugal

Luísa Castel-Branco, 14.05.10

 

 

Professores indignados com livro infantil que os compara a vacas

 

Professores indignados com livro infantil que os compara a vacas
Mais um exemplo extraordinário do estado da Educação em Portugal. Esta anedota de péssimo gosto, foi publicado pela Editora Civilização no livro "365 Piadas Novas" para crianças a partir dos 7 anos.
Sem mais comentários.

Um dia de cada vez 03

Luísa Castel-Branco, 05.05.10

 Em tempos tinham caminhado pela cidade de mãos dadas, sem vergonhas, sem pudor. Ele roubava-lhe beijos rápidos, mas que tinham o tamanho do Mundo. Em tempos tinham rido de coisas pequenas, eram dias plenos de satisfação e encantamento. Um encantamento que se propagava às coisas que os rodeavam, os objectos e as outras pessoas diziam: aqueles dois são felizes. Em tempos o tempo não chegava para se amarem. As obrigações dos dias eram espaços roubados ao tempo que só a eles pertencia. Depois, quando veio o primeiro filho, foi o espanto que partilharam a dois que os mais marcaria. Vê-lo crescer todos os dias e todos os dias descobrir algo de maravilhoso. E de repente os dias soltaram-se, os anos voaram, outros filhos vieram, outros desafios e, quando deram por eles, já só tinham as memórias saudosas, tristes, embaciadas, dessa paixão que um dia fora só deles. Agora viviam um dia de cada vez, dias cheios de turbulência, problemas e desgastes. Dias em que, cada um para seu lado, ainda relembrava quem tinham sido há tanto, tanto tempo. Mas era isto a vida, não era? A realidade pesava-lhes sobre os ombros e já não havia mais noites à janela a contar as estrelas e a olhar com espanto os telhados da cidade.

 

In Destak 4.4.10