Adeus Amigo, até amanhã
Não fui ver-te ao IPO porque sabia que o não querias. Estou certa que não quiseste que ninguém te visse, frágil, doente, nessa contagem decrescente e tão incrivelmente dolorosa para a morte.
E agora que partiste, guardo-te dentro de mim como a ultima vez que te vi, e ao mesmo tempo, tu e eu tão jovens e com a vida toda pela frente! Tu, o nosso cavaleiro andante, o revolucionário, o grande apaixonado. Haverias de cumprir aquilo que já então se adivinhava, e viveste de forma excessiva, as paixões, os vícios e tudo o resto.
Muita gente que te chora neste momento, e muitos conheceram-te bem melhor do que eu basta-me pensar nos teus filhos que tanto amaste, mas que queres, quando a amizade nasce tão cedo assemelha-se em tudo ao amor. Não me surpreendeu a tua morte, sempre pensei que partirias muito cedo. Viveste sempre a sorver cada dia como se fosse o ultimo, e pensei que um dia o teu coração se partiria de verdade.
Porque o teu coração estava tão cheio, Fernando! Qual D. Quixote armado apenas pela sedução dos ideais, o cigarro ao canto da boca e aquele ar de perdido, de quem busca algo que não sabe o que é. Somos do tempo das grandes conversas, do tempo em que havia tempo. Ainda que tu não conseguisses parar quieto, como se algo te perseguisse ou era apenas a tua urgência em te sentires livre.
Somos do tempo dos sonhos impossíveis e tu e eu andámos por aqui a fazer o que esperavam de nós. Sei que não encontraste a resposta para a pergunta que nunca descobriste qual era. Discordamos em tantas coisas. Mas agora, chegados aqui, tu partiste e não acreditavas (ou pelo menos assim dizias) que algo existisse depois da morte. Mas eu acredito.
Não sei em quê, nem como se chama, nem que forma tem. Mas sei que te verei novamente, um dia. E até lá, deixa-me que te beije uma vez mais, enquanto tu me dás piropos que eu sei não mereço.
in Destak 17 | 05 | 2010