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Luísa Castel-Branco

Diz-me a verdade, mesmo que mintas

Luísa Castel-Branco, 29.09.10

 

Jura que vamos sentarmo-nos lá fora no jardim, o frio a lamber-nos o corpo, eu aninho-me em ti e ouvimos as estrelas e olhamos o silêncio cortado pelo vento nas folhas dos pinheiros.

Diz-me a verdade, mesmo que mintas.

Promete-me que no futuro, estaremos sós os dois, aqui nesta casa, as nossas impressões digitais coladas pelas paredes, fechamos todas as luzes e apenas as labaredas da lareira vão inundar a casa, tons quentes no frio da noite mágica.

Diz-me a verdade, ainda que me mintas.

Diz-me que vamos voltar atrás quando andarmos para a frente, e de novo saborear os nossos corpos, já lá vai tanto tempo que já não tenho o sal da tua pele na minha memória. Não sei se vamos retomar à paixão de há tantos anos atrás ou à acalmia do amor sereno mas tanto me faz, o que quero mesmo a voltar atrás nesse futuro e quando entrar a porta do quarto saborear de antemão o prazer das tuas mãos a tecerem rendas na minha pele.

Diz-me a verdade, nem que me tenhas que mentir, e pintar o céu de outra cor qualquer, e dar-me asas para voar, que eu não aguento mais, aqui sufoco, aqui morro todos os dias mais um pouco.

Diz-me a verdade mesmo que me mintas e eu levar-te-ei nos meus braços quando levantar voo daqui sem sairmos os dois do sofá, da carpete, da cama.

Mas diz-me a verdade. Diz-me toda a verdade coberta pelas mais doces mentiras, essas promessas de futuro, de acalmia, de passeios na praia quando o frio aperta e as gaivotas baixam ao areal.

Diz-me a verdade e promete-me uma noite de sono. Mente e diz-me que vou dormir como um bebé virgem de medos, sem estes terrores nocturnos, sem este acordar diário a teu lado na cama, e contudo, tão só como o primeiro ser do universo.

Diz-me a verdade que não me importo que seja mentira. Já não faz diferença alguma, na verdade o que  te peço é que me mintas, mas desta vez não me dês uma das tuas mentiras que me fazem chorar, que me fazem sangrar e me roubam dias de vida.

Não.

Diz-me a verdade da mentira que vamos viver. Diz-me depressa que eu não sei quanto tempo mais consigo respirar aqui!

Mil desculpas mas é a vida!

Luísa Castel-Branco, 13.09.10

Tenho a caixa de mensagens do meu email cheia. Tenho dezenas de comentários quer aqui no blog quer no correio electrónico para responder, mas ainda não vai ser desta!

Li já não recordo onde, que a vida é como um fruto que se vai retirando cada camada até encontrar a verdade no caroço.

Ora aqui está uma forma simples de olhar o que nos acontece e tentar não procurar fazer sentdo  da vida.

E será que a vida faz sentido? Será que, como gosto tanto de pensar, tudo acontece por uma razão?

E se não for assim? E se afinal de contas todos os acontecimentos, dores, lágrimas e risos forem puramente aleatórios?

Não faço ideia alguma.

O que sei, é que quanto mais envelheço menos respostas tenho.

Após um mês e duas semanas em imobilização,  o que quer dizer que estando sozinha em casa fiz o mínimo possível e cheia de dores, com uma costela partida, sobrou-me tempo para pensar e repensar.

E acreditem, dei comigo a fazer uma avaliação cruel e fria destes 56 anos de vida, entre lagrimas e também sorrisos das boas memorias.

Para mim que não consigo fazer uma só coisa de cada vez, não poder sequer escrever no computador foi verdadeiramente doloroso.

Mas há muitos, muitos anos que não passava dia após dia totalmente sozinha.

E por isso mesmo, o mergulhar dentro de mim foi mais fácil sem distracções, sem palavras, sem nada.

Qual o compto desta longa introspecção?

Ainda não vos posso dizer,  mas quero acreditar que o que me aconteceu foi por uma razão, e que muito provavelmente essa razão era tão somente obrigar-me a parar e a olhar para a verdade da vida.

O que sinto agora?

Isso fica para depois.

Um abraço a todos.

Luísa