OLÁ A TODOS! ESTOU DE VOLTA AO MUNDO DOS VIVOS!
Desculpem-me a tão longa ausência mas foi por uma boa causa. E pronto! mal acabo a frase percebo a incorrecção da mesma. Quem dirá se foi ou não por uma boa causa serão os leitores do meu novo romance. E cada um terá a sua verdade.
Por mim foi pura incapacidade física em escrever outra cousa que não desenrolar do meu romance.
Este meu novo livro é um caso estranho, mesmo para mim que sou em tudo estranha e fora dos parâmetros da normalidade.
Comecei a escrever-lo há mais de uma ano e depois parei. Não era capaz de contar aquela história. Não queria contar aquela historia, aquelas vidas.
Mas não funciona assim. Pelo menos comigo.
Atirei-me de cabeça a outro romance do qual escrevi mais de cento e cinquenta páginas e contudo, a minha cabeça, as minhas noites e os meus dias eram de uma enorme confusão e frustração.
O meu processo de escrita é uma forma estranha de estar viva, de acordar de manha e percorrer as horas.
O meu editor acalma-me sempre dizendo-me que cada escritor tem a sua própria forma de actuar.
E um dia, a minha querida Rosa Lobato Faria deu-me a maior ajuda possivel quando eu estava perdida a escrever a minha "Alma e os Mistérios da Vida" e ela me sossegou dizendo que fizesse como sentia que o tinha que fazer e nada mais.
E contudo, eu sei como se deve fazer. Li livros e mais livros sobre escrita criativa, cheguei a frequentar umas aulas que tive de desistir para ir trabalhar num novo projecto, enfim, as bases do que é correcto estão lá, na minha consciência,
Mas nada se passa assim.
De repente, uma cor, um som, um perfume, qualquer coisa ridícula traz até mim divagações. Apenas isso. E então começa o processo.
Tenho que estar ocupada a fazer seja o que for, senão não acontece esse estranho transe em que o meu subconsciente vive a par do consciente.
Pouco a pouco ELAS começam a surgir. Como fantasmas, como intrusos, nunca por convite.
ELAS, as personagens, começam uma dança na minha cabeça preenchida por diálogos, situações, pequenos apontamentos.
E é assim, dia após dia, noite após noite.
Muitas vezes estou no meio de uma conversa e sinto perfeitamente que deixo de estar ali. O meu cérebro responde automaticamente aos outros mas o que é mais verdadeiro dentro de mim está a assistir a uma conversa entre as personagens, a um pormenor que de repente me ocupa toda a atenção.
E isto corre durante meses. Muitas vezes quando acordo de manhã estou exausta. Tanta coisa que aconteceu durante a noite!
Quando finalmente me sento ao computador, não sem antes ter tentado escrevinhar num papel os nomes, locais, momentos mais importantes, é como se alguém que não eu me possuísse, tomasse conta do meu corpo e os dedos correm no teclado, marcando as teclas sem parar, até as dores me obrigarem a tomar um comprimido para poder retomar a faina.
Este novo romance esteve a crescer dentro de mim durante muito tempo. Escrevi desenfreadamente durante meses e depois parei. Não queria contar aquela trama, não queria continuar dia após dia a viver aquelas vidas.
Passado mais de seis meses desisti. Dei-me como derrotada e voltei á historia e acabei-a.
Cada vez acredito mais numa frase que li não sei onde e que dizia "É a narrativa que encontra o narrador e não o inverso".
As minhas personagens são os fantasmas que me enchem a cabeça, o corpo, os dias e as noites e a casa.
Meu Deus! A minha casa está um caos!
Ao longo de todo o tempo em que escrevo começo inúmeros projectos que me ocupem as mãos, porque não as consigo ter quietas.
E depois fica este desnorte de desarumação, desordem e caos.
Agora vou entrar na parte difícil de revisão do texto. É como olhar e ler e cheirar algo desconhecido mas que sei de cor e salteado.
"Quem foi que escreveu isto?
A editora ficou muito entusiasmada com o novo romance.
E eu também me senti entusiasmada por ter conseguido acabar a historia e dar descanso as almas que queriam nascer,viver,morrer.
Mas como sempre, é sol de pouca dura.
Este fim de semana estive a ler a pré publicação do próximo romance de Lobo Antunes.
Fico do tamanho de um alfinete!
O génio deste homem fascina-me.
Eu sou apenas uma relatora de historias que vêem não sei de onde.
Porém, o publico tem tido a amabilidade de gostar dos meus livros. E cada vez que alguém vem falar comigo no meio da rua, ou me envia um email e diz como as minhas palavras o tocaram, só posso agradecer com humildade.
Porque mais não mereço.