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Luísa Castel-Branco

A saudade nunca morre

Luísa Castel-Branco, 09.09.09
 
 

Apareces assim de repente, sem aviso. Por vezes é o teu perfume, alfazema e tabaco, que vem de sítio nenhum. Outras, poderia jurar que sinto o teu respirar no meu ombro, uma sombra que não está lá mas que eu vejo, sei lá, sinto-te por todo o lado, sem descanso, ainda hoje e já passaram vinte sete anos desde que partiste.

Seguramente que tal acontece por pensar em ti com tanta frequência. Por sentir a tua falta dia após dia. Sem descanso.

O que pensarias do que faço? De quem sou?

A saudade não morre, e não se transforma em nada.

É tão-somente saudade do que não te disse, do que não me chegaste a dizer. De tudo o que deveríamos ter vivido, de todas as conversas adiadas porque havia tempo, e depois, partes aos cinquenta e um anos, e deixaste-me para aqui neste desassossego de alma, nesta culpa tão profunda do que não fiz e das palavras que não disse.

Queria tanto abraçar-te de novo, meu pai! Encostar a cabeça no teu ombro, envolvida pelo teu perfume e sabendo de antemão o quanto te incomodava qualquer manifestação de ternura.

Se fosse hoje, se eu pudesse voltar atrás por breves minutos, cobriria o teu rosto de afagos e beijos molhados, e dir-te-ia vezes sem conta: Amo-te. Talvez por isto tudo, não me canso de dizer aos meus filhos o quanto os amo.

Não creio que eles compreendam esta necessidade absurda. Mas não me importo. Temo partir de repente, como tu, e não lhes ter feito sentir que eles são tudo para mim, absolutamente tudo. As pessoas não choram assim após vinte e sete anos, eu sei.

Ou talvez eu esteja errada. E alguém quando ler este texto reconheça a dor na alma, a dor imensa da ausência de quem se ama.

Que importa? Hoje sonhei contigo. Sorrias para mim

in Destak 08 | 09 | 2009 

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