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Luísa Castel-Branco

Os Mistérios da Escrita

Luísa Castel-Branco, 05.09.12

As férias significam um corte com a rotina, mesmo quando os problemas não ficam para trás, muitas vezes tal é impossível, pelo menos o virar da rotina dos dias dá-nos uma sensação de que algo está diferente.

 Eu não tive um único dia de féria e contudo não estive cá, aqui, na minha casa.

É essa a sensação que se tem quando estamos a escrever um livro. A realidade embora não nos saia do subconsciente, é arredada para trás porque vivemos e dormimos com as personagens. Escrever é um acto solitário. É algo difícil de explicar aos outros. É algo difícil de nós mesmos entendermos. Podemos tentar estabelecer uma rotina. Horas certas para nos sentarmos em frente ao computador e depois…nada acontece.

As pessoas que vivem no romance, que para mim são tão reais como aquelas que encontro na rua, tendem a aparecer nos momentos menos apropriados.

E muitas vezes me levanto de manhã convencida que já escrevi uma boa parte da história e contudo, só existe na minha cabeça, na longa noite que passei nessa outra realidade.

São meses e meses de trabalho. E quando parece ter acabado não acabou. Do nada surge mais um pedaço daquelas vidas e lá vou eu para o computador, eu fiel depositária dos seus sentimentos.

Quando finalmente escrevo a palavra : FIM, dá-me um nó no estomago e normalmente choro, como quem se despede de entes queridos que partem para sempre.

É um privilegio poder escrever. Poder estar assim,  viva mas numa outra realidade,  num outro país, num mundo que é só meu.

Mas no final tenho que voltar “á terra”. E estou tão cansada, tão cansada...

in Destak 3.09.12